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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

8 de agosto é o Dia do Produtor Rural Sergipano

 Por Shis Vitória/Agência de Notícias Alese

Pensando na importância que o agronegócio possui na cadeia produtiva e pela ligação com vários setores da economia, a Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) aprovou um projeto de lei, sancionado pela administração estadual, que institui o dia 8 de agosto como o “Dia do Produtor Rural Sergipano” através da Lei Nº 8.815/2021. A propositura tem como foco valorizar o produtor sergipano e remete a agosto de 2016, quando Sergipe vivenciou uma severa seca que assolou 100% as lavouras de milho.

Atualmente, a maior parte dos alimentos que está mesa dos brasileiros vem das pequenas propriedades, o que favorece o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas como a diversificação de cultivo, menor uso de insumos industriais e a preservação do patrimônio genético. Em Sergipe, de quase 95 mil propriedades rurais, 70% delas são de agricultores familiares.

Diogo Machado avalia a atuação no setor. Foto: Arquivo pessoal

O engenheiro agrônomo, produtor de leite da Fazenda Cabana Massaranduba e consultor, Diogo Machado, comenta sobre a atividade que faz parte de sua vida há mais de 30 anos. ”Sou neto de produtor rural, filho de filho de produtor de leite e estou nesse ramo desde 1984, quando meu pai José Augusto Machado (in memorian) adquiriu a fazenda em Campo do Brito com o intuito de iniciar as atividades com leite e seguimos com a propriedade em execução até os dias de hoje. Fornecemos para grandes laticínios de Sergipe como a Betânia Lácteos e os desafios sempre foram enormes. Ser produtor rural no Brasil não é fácil, todavia e economicamente falando é hoje o negócio que vem sustentando o país e nos somamos a mais de 1 milhão de produtores de leite a nível nacional, sendo a atividade que mais possibilita a geração de empregos”, destaca.

O produtor ressalta ainda sobre os altos custos para a produção. “Ao longo dos últimos anos a atividade foi afetada com os altos custos de produção, já que tudo subiu de preço como o milho, soja, concentrados e funcionários qualificados. Mesmo assim, a luta é contínua e acredito muito na dedicação junto com a satisfação que a atividade nos permite. Eu tenho paixão pelo ramo. A fazenda tem vários centros de receitas, mas o leite é o principal deles movimentando com mais força a rotina do dia a dia além disso, temos a venda atuando como fornecedora de animais para o mercado (genética) e um Centro de Treinamento que mensalmente desenvolvemos cursos na área de agropecuária”, explicou.

Responsabilidade social e sustentabilidade

Projetos na área de responsabilidade social e sustentabilidade também integram a missão da fazenda. “Trata-se de um projeto muito interessante só que por conta da pandemia foi adiado no formato presencial e, por isso, realizamos hoje de forma digital. A partir do início do próximo ano pretendemos abrir a fazenda ao público principalmente, algo voltado para crianças com a ideia de apresentar como é desenvolvida a produção de leite, ações de sustentabilidade com a preservação legalizada e atuamos nessa parte, campanhas de doação de leite, entre outros”, concluiu.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Embrapa promove testes para elevar produtividade de forrageiras no Semiárido

 Pesquisa desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com experimentos nos nove estados da região Nordeste e na região norte de Minas Gerais, evidenciou benefícios de se diversificar a oferta de plantas forrageiras no Semiárido brasileiro. O projeto Forrageiras para o Semiárido, ao longo de três anos de atividade, mostrou resultados de produtividade e resiliência de espécies forrageiras testadas em 12 diferentes unidades de referência tecnológica (URTs).

No projeto, foram testadas 26 espécies, entre gramíneas perenes, gramíneas anuais, cactáceas e lenhosas. Entre as gramíneas perenes, os capins Buffel Aridus, Massai e BRS Tamani apresentaram melhor desempenho médio, com produtividade variando entre 15 e 20 toneladas de matéria seca por hectare a cada ano e resistência para formação de pastos.

Entre as gramíneas anuais, usadas para compor reserva alimentar em forma de silagem, o sorgo BRS Ponta Negra produziu forragem para encher dois silos de 40 toneladas, em unidades onde a precipitação média foi de 600 mm anuais – uma silagem suficiente para ser fornecida a um rebanho de sete vacas durante 180 dias. O milheto BRS 1501, por sua vez, teve bom desempenho em condições ainda mais adversas: em regiões com precipitações anuais abaixo de 400 mm, ele chegou a produzir 18 toneladas de massa verde, reserva capaz de alimentar um rebanho de 33 cabras durante 180 dias.

Nas espécies lenhosas, usadas para compor bancos de proteína, leucena e gliricídia tiveram produtividade de 3 toneladas de matéria seca por ano. Já nas cactáceas, além de boa produtividade, os experimentos mostraram capacidade de resiliência: 99% dos materiais testados sobreviveram a condições adversas no Semiárido durante os três anos de projeto.

De acordo com a pesquisadora Ana Clara Cavalcante, chefe-geral da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE), todos esses indicadores são muito positivos, especialmente porque foram obtidos em condições de sequeiro – em locais com precipitação acumulada média menor que 600 mm por ano e onde as plantas forrageiras contam somente com água das chuvas como recurso hídrico – semelhantes à realidade da maioria dos produtores rurais no Semiárido brasileiro.

“Essa resposta tem essa magnitude porque foi utilizada tecnologia em práticas que permitem manter mais água de chuva no solo e na planta. A implantação de espécies lenhosas fez uso de hidrogel (quando adicionado às mudas, serve como uma reserva de água em períodos de estiagem). Para cactáceas, tivemos o uso de técnica de plantio em camaleão, que evita o contato direto da planta com a água e, ao mesmo tempo, permite o acúmulo de água no solo entre as linhas de palma”, destaca a pesquisadora.

Forrageiras adaptadas a realidades locais

Os experimentos nas 12 unidades de referência tecnológicas evidenciaram que é necessário observar com atenção as realidades locais, pois o Semiárido brasileiro não é homogêneo, apresentando diversidade de condições ambientais em suas regiões. “As espécies avaliadas, materiais provenientes dos programas de melhoramento vegetal da Embrapa e de parceiros, foram testadas em diversos ambientes e comprovaram que determinadas características genéticas se manifestam melhor em condições específicas de solo e precipitação”, frisa a pesquisadora.

Com os trabalhos nas URTs, é possível indicar forrageiras mais adaptadas a realidades locais para implementação nas propriedades rurais, como alternativas para compor o cardápio forrageiro. Na URT em Tenório (PB), os testes indicaram bons resultados para espécies como o sorgo Ponta Negra e a cactácea Orelha de Elefante Mexicana (26,6 toneladas MS/hectare/ano).

“São resultados muito significativos. É perfeitamente possível alcançar produtividades até maiores. Nas visitas feitas à URT, em dias de campo ou a partir de lives, os produtores começaram a ver a importância da diversidade de plantas na propriedade, pois, com planejamento, obedecendo as janelas de plantio, e observando as culturas mais resistentes é perfeitamente possível ter várias opções de forragens na propriedade”, avalia Humberto Gonçalves, licenciado em Ciências Agrárias e técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural da Paraíba (Senar/PB) que acompanhou os trabalhos na URT.

Já na URT de Montes Claros (MG), região do Semiárido mineiro, tiveram destaque, em termos de produtividade, o sorgo BRS 658 (24 toneladas de MS/hectare/ano), o capim Andropogon (10 toneladas MS/hectare/ano) e também a Orelha de Elefante Mexicana (19 toneladas MS/hectare/ano). Segundo a engenheira agrônoma Inez Silva, técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Administração Regional de Minas Gerais (Senar/MG) que acompanhou os experimentos, são indicadores positivos para uma região com chuvas escassas e mal distribuídas, com longos períodos de estiagem e altas temperaturas. Esse desempenho traz, segundo ela, boas opções para a diversificação da oferta de forragem em âmbito local.

“A diversificação de forrageiras ajuda a minimizar os riscos. Com o melhor aproveitamento de cada grupo de plantas, cujas potencialidades se somam e permitem a autonomia dos produtores no processo de produção do alimento, conseguimos uma contribuição mais relevante para viabilizar a pecuária em qualquer sistema de produção do Semiárido, independentemente do tamanho da propriedade”, afirma Inez.

Cooperação técnica

Para a continuidade do projeto Forrageiras para o Semiárido nos próximos três anos, foi firmada uma cooperação técnica entre a Embrapa e a CNA que iniciou em novembro de 2021 uma nova fase, com futura participação de animais em novas URTs. Lá, está sendo estudada a capacidade de resiliência de plantas forrageiras sob condições de pastejo de ovinos, bovinos de corte e novilhas de leite.

Nas URT’s da primeira fase do projeto, já instaladas, será iniciada uma nova etapa de estudos onde serão inseridos materiais inéditos para avaliação. Essas forrageiras serão selecionadas pelas equipes da Embrapa e técnicos do Senar/CNA. Também nessa segunda fase do projeto, as opções do cardápio forrageiro serão incluídas em um módulo do aplicativo Orçamento Forrageiro, para ajudar os produtores do Semiárido na escolha das espécies mais adequadas às suas condições climáticas.

Fonte: Canal Rural 


segunda-feira, 28 de março de 2022

Novos insumos ajudam a reduzir dependência de fertilizantes minerais

 Plantio direto, rotação de culturas e o uso de insumos biológicos podem ajudar a diminuir o uso de fertilizantes minerais críticos

A implementação de estratégias mais sustentáveis de manejo do solo, como o plantio direto com a rotação de culturas e o uso de novos insumos biológicos à base de resíduos orgânicos ou de microrganismos, entre outras soluções, podem ajudar a aumentar a eficiência no aproveitamento e, consequentemente, diminuir o uso de fertilizantes minerais críticos para agricultura brasileira.

É o que indicam resultados de estudos apoiados pela Fapesp e conduzidos por pesquisadores ligados a diferentes universidades e instituições de pesquisa no país.


A adoção dessas práticas pode gerar uma economia para os agricultores brasileiros da ordem de mais de US$ 20 bilhões nas próximas décadas só com a redução do uso de fertilizantes fosfatados, estima Paulo Sérgio Pavinato, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

Nos últimos dez anos, o consumo de fertilizantes fosfatados no Brasil aumentou 43,4% – e mais de 67% são importados de países do norte da África, principalmente do Marrocos.

“Manter a palha e restos da planta na superfície das lavouras entre as safras, como é feito no plantio direto, e promover a rotação de culturas, explorando o solo o tempo todo e não o deixando desnudo nunca, são formas de promover a ciclagem mais eficiente e aumentar a eficiência no aproveitamento pelas plantas de nutrientes como o fósforo”, diz Pavinato à Agência FAPESP.

De acordo com o pesquisador, fósforo – que é um dos três macronutrientes mais utilizados na adubação de lavouras no Brasil, atrás do nitrogênio e do potássio – é um dos fertilizantes minerais com menores índices de aproveitamento pelas culturas agrícolas nos solos brasileiros.

Isso porque os tipos de solos no Brasil e em outras regiões tropicais, mais argilosos, são ricos em óxidos de ferro e alumínio, que têm capacidade muito alta de se ligar quimicamente e reter fósforo. Dessa forma, grande parte desse fertilizante aplicado fica acumulado no solo em formas pouco ou não acessíveis às plantas.

“Nos últimos 20 anos, em média, a eficiência no aproveitamento do fósforo pelas plantas cultivadas no Brasil tem sido de 50%”, afirma Pavinato.

“Do total desse fertilizante adicionado na adubação, 50% são extraídos via colheita e os outros 50% restantes ficam retidos no solo. Por isso, é comum aplicar nas lavouras no país pelo menos mais do que o dobro da quantidade de fósforo de que a planta necessita”, explica.

Por meio de um projeto apoiado pela Fapesp, o pesquisador, em colaboração com colegas da Bangor University, do Reino Unido, fez um inventário do fósforo acumulado ou residual nos solos brasileiros a partir dos anos 1970, quando se começou a utilizar fertilizantes em larga escala no país e o mineral passou a ser acumulado no solo.

Os cálculos, baseados em estimativas de adições médias e de retiradas de fósforo pela absorção pelas culturas agrícolas indicaram que, desde os anos 1970, cerca de 33,4 milhões de toneladas do fertilizante foram acumuladas nos solos agrícolas brasileiros.

As áreas com maior tempo de cultivo, situadas em boa parte do Sudeste, nos Estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, são as que apresentam os maiores estoques de fósforo no solo, apontaram os pesquisadores em artigo publicado na revista Scientific Reports.

“As regiões com áreas agrícolas mais novas, como as localizadas nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e, mais recentemente, no Matopiba [área considerada a nova fronteira agrícola brasileira, compreendida por porções dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia], têm bem menos fósforo acumulado em função do tempo de cultivo”, diz Pavinato.

“Mas, mesmo nesses Estados, há muito mais fósforo total no solo do que em regiões do Reino Unido, por exemplo”, compara.

Por meio da rotação de culturas, com o plantio de plantas de cobertura, como braquiária ou milheto após o cultivo da soja, por exemplo, é possível não só aumentar a eficiência no uso desse fósforo estocado no solo, como também aumentar a resistência da lavoura à seca, afirma Pavinato.

Isso porque com a implantação desse sistema as raízes das plantas têm maior capacidade de explorar um volume maior do solo, explica o pesquisador.

“Os produtores com sistema de produção bem implantado, que têm feito a rotação de culturas nos últimos anos, podem passar uma safra ou mais sem precisar adubar suas lavouras porque o solo já tem uma boa reserva de nutrientes, principalmente de fósforo”, diz.

“Já os produtores que seguem o sistema de plantio convencional vão sofrer muito mais em períodos de crise de fertilizantes, como agora, porque não têm reserva no solo”, compara.

Uso de plantas de cobertura

Em um estudo em andamento, também apoiado pela FAPESP, o pesquisador e colaboradores estão avaliando o uso de plantas de cobertura, como ervilhaca, nabo forrageiro, tremoço e azevém no inverno, antes do plantio de milho, no verão, para melhorar a exploração de fósforo no solo.

Para realizar os experimentos foram aplicados durante sete anos seguidos, entre 2008 e 2015, fosfatos solúvel e natural em áreas de cultivo de milho no Paraná com rotação com essas plantas de cobertura. Após esse período, essas áreas pararam de ser adubadas.

Resultados preliminares do estudo indicaram que, nos anos posteriores e com déficit hídrico, a safra de milho nessas áreas foi duas vezes maior do que a das que não receberam adubação fosfatada.

“As plantas de cobertura que promoveram maior produtividade do milho nessas áreas fosfatadas foram a aveia preta e a azevém. Essas gramíneas têm habilidade de ciclar mais nutrientes de maneira geral. Mas é importante ressaltar que essas respostas só podem ser obtidas em longo prazo”, sublinha Pavinato.

Fertilizantes organominerais

Um fertilizante organomineral desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Solos também pode contribuir tanto para aumentar a disponibilidade de fósforo para cultivares agrícolas como também para aproveitar e gerar valor para um passivo ambiental.

Os pesquisadores da instituição desenvolveram ao longo dos últimos 11 anos um fertilizante organomineral fosfatado granulado a partir da “cama” de frango – material utilizado para forrar o piso dos galpões de granjas, composto por maravalha, palha de arroz, feno de capim e sabugo de milho triturado ou a serragem com as fezes, urina, restos de ração e penas de galinha.

Esse resíduo agrícola era usado como fonte de alimento suplementar para bovinos no Brasil, mas a utilização dele para essa finalidade passou a ser proibida no país a partir de 2004 com o surgimento do “mal da vaca louca”.

Já na agricultura, o uso desse material é consolidado, porém, sem recomendações técnicas específicas, pondera Joaquim José Frazão, professor do Instituto Federal de Roraima (IFRR).

“A falta de recomendações técnicas específicas tem causado o uso inadequado e aplicação superficial da cama de frango, com doses inadequadas, baixas respostas agronômicas e risco de contaminação do meio ambiente por nitrato, presente em grande quantidade no material”, afirma Frazão.

Uma vez que a cama de frango também apresenta teores variáveis de fósforo, os pesquisadores da Embrapa Solos, em parceria com Frazão, realizaram nos últimos anos diversos testes de misturas do material com fontes minerais a fim de enriquecê-lo com o mineral para aplicação como fertilizante.

Os resultados de testes de aplicação do fertilizante organomineral em casas de vegetação e em campo, nos municípios de Rio Verde e Goiânia, em Goiás, e em Piracicaba, no interior de São Paulo, durante o doutorado de Frazão, com Bolsa da FAPESP, indicaram que o produto tem eficiência agronômica comparável com as fontes minerais tradicionais, como o fosfato monoamônico (MAP) e o superfosfato triplo, já na primeira safra de culturas como a soja e o milho. O estudo foi publicado na revista Sustainability.

“Também observamos por meio de outros estudos que o produto tem efeito residual no solo”, afirma Frazão.

Como a liberação do fertilizante organomineral é mais lenta em comparação com as outras fontes de fósforo disponíveis, que são solúveis em água, o produto supre a demanda do macronutriente pela planta e, ao mesmo tempo, diminui os riscos de perda do mineral pelo processo de adsorção (fixação) pelos óxidos de ferro e alumínio, explica o pesquisador.

“Como os fertilizantes fosfatados tradicionais são solúveis em água, a liberação deles no solo após a aplicação é quase imediata. Já o organomineral que desenvolvemos tem liberação mais lenta e, dessa forma, é possível mantê-lo disponível no solo por mais tempo”, afirma Frazão.

De acordo com o pesquisador, a Embrapa Solos patenteou a tecnologia do processo de produção do fertilizante organomineral.

Além da cama de frango, podem ser usadas diversas outras fontes orgânicas para produzir o organomineral, como estercos de aves e bovinos e palha de arroz, ressalta Frazão.

“As respostas de eficiência agronômica do organomineral formulado com essas outras fontes, contudo, podem não ser iguais às do composto por cama de frango em razão da variação da composição química”, pondera.

Fertilizante orgânico

Outra fonte promissora para produção de fertilizante é um composto gerado a partir do lodo proveniente do tratamento do esgoto, apontam estudos conduzidos por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Ilha Solteira.

Rico em matéria orgânica e fonte de macro e micronutrientes para as plantas, como nitrogênio, fósforo, cobre, ferro, manganês e zinco, o lodo de esgoto já era apontado como um potencial subproduto para aplicação como adubo na agricultura desde a década de 1980. A preocupação com o risco de o resíduo contaminar o solo e as plantas com metais pesados, além de carregar vírus e outros microrganismos patogênicos, porém, limitou a aplicação para essa finalidade, diz Thiago Nogueira, professor da Unesp e coordenador do estudo.

“Mesmo com a comprovação do efeito benéfico do uso do lodo de esgoto na agricultura, as legislações estaduais estabeleceram critérios que dificultaram a aplicação desse resíduo urbano. Uma quantidade muito pequena desse material tem sido usada em larga escala na agricultura não só no Estado de São Paulo, como em outras regiões do país”, afirma Nogueira.

Por meio de uma parceria com uma empresa em Jundiaí, os pesquisadores começaram a fazer a compostagem do lodo de esgoto para eliminar a carga de patógenos e diminuir os teores de metais a fim de viabilizar a aplicação do composto na agricultura.

Os pesquisadores estão avaliando agora o uso do material como fonte orgânica de nutrientes para solos da região do Cerrado, que são naturalmente muito pobres em nitrogênio, fósforo, boro, manganês e zinco, em culturas como arroz, feijão, soja, milho e cana-de-açúcar.

Resultados preliminares do estudo, realizado no âmbito do mestrado da pesquisadora Adrielle Rodrigues Prates, com bolsa da FAPESP, indicaram que a aplicação do composto aumentou os teores principalmente de cobre, manganês e zinco no solo e nas folhas da cultura da soja.

“Também já observamos um aumento de 67% na produtividade da soja e efeito residual da aplicação do composto com ganhos de produtividade da cultura do milho acima da média nacional e com valores similares aos resultados obtidos somente com a aplicação de fertilizantes minerais”, afirma Nogueira.

Segundo o pesquisador, ficou claro que o composto de lodo de esgoto aumentou a disponibilidade de nutrientes no solo, especialmente nitrogênio, fósforo e alguns micronutrientes, com elevação na produtividade das culturas.

Mais recentemente, outras pesquisas estão sendo desenvolvidas para conhecer melhor a associação de doses do composto de lodo de esgoto com plantas de cobertura cultivadas sob plantio direto no Cerrado, com ênfase no monitoramento da saúde do solo, explica Nogueira.

Microrganismos solubilizadores

Além do manejo, de variedades melhoradas de plantas e de fertilizantes mais eficientes, outra estratégia que tem sido implementada para melhorar o aproveitamento de nutrientes pelas plantas é a utilização de microrganismos solubilizadores, como bactérias e fungos.

Esses microrganismos têm o potencial de explorar e ajudar as plantas a acessar o fósforo não disponível no solo, por exemplo, explica Antônio Pedro da Rocha Camargo, colaborador do Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC) – um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e pela Embrapa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Microrganismos podem ajudar as plantas a conseguir nutrientes de várias formas. Alguns dos mais conhecidos são as micorrizas, que são fungos que se associam à raiz da planta e aumentam a superfície de absorção. Mas também há bactérias que ajudam as plantas a pegar o nutriente que está no solo de uma forma que elas normalmente não conseguem absorver, como o fósforo insolúvel”, explica.

Durante seu doutorado, realizado com bolsa da FAPESP, o pesquisador investigou microrganismos associados às plantas nos campos rupestres.

Situados na região central do Brasil, os campos rupestres têm solo extremamente pobre em fósforo, em razão das condições geológicas, e muito ácido, mas, ainda assim, apresentam alta diversidade de espécies de plantas, a maior parte delas endêmica (que ocorre exclusivamente naquela região).

“Há anos tem sido estudada a fisiologia dessas plantas com o objetivo de entender como elas crescem naquele bioma”, diz Camargo.

O pesquisador e colaboradores constataram que o solo dos campos rupestres, apesar de muito pobres, também apresenta uma grande diversidade de microrganismos associados às plantas, principalmente bactérias, que também ocorrem exclusivamente naquela região.

Ao analisar esses microrganismos, eles observaram que bactérias encontradas nas proximidades da raiz das plantas apresentam maior número de genes associados à disponibilização de fósforo.

“Vimos que várias funções associadas à disponibilização de fósforo para as plantas estão enriquecidas nessas bactérias”, afirma Camargo.

Ao comparar o genoma das bactérias dos campos rupestres com o de outras evolutivamente próximas, encontradas em outros lugares, os pesquisadores também constataram que elas possuem mais genes associados à disponibilização de fósforo para as plantas.

“Isso mostra que as funções de disponibilização de fósforo para as plantas provavelmente estão sendo selecionadas naquele ambiente. As plantas podem liberar compostos que são nutritivos para as bactérias que solubilizam fósforo para recrutá-las e, dessa forma, obter o nutriente”, explica Camargo.

O objetivo final do estudo é permitir selecionar e cultivar essas bactérias em larga escala para produzir inóculos – cultura contendo uma ou mais espécies de microrganismo para aplicação em lavouras com o objetivo de aumentar a absorção de fósforo pelas cultivares agrícolas.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Brasil cria a sua primeira cultivar de capim Brachiaria ruziziensis.

 O programa de melhoramento genético de forrageiras conduzido pela Embrapa desenvolveu a primeira cultivar de Urochloa ruziziensis ou Brachiaria ruziziensis, como o capim era denominado cientificamente (leia explicação no quadro abaixo). Essa cultivar foi desenvolvida para as condições de solo e clima no Brasil e recebeu o nome de BRS Integra por se destinar aos sistemas de integração lavoura, pecuária e florestas (ILPF).

Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Fausto Souza Sobrinho, que conduziu os estudos, comparada à cultivar atualmente disponível no mercado (cv. Kennedy) a BRS Integra apresenta maior produção de forragem na entressafra, quando o capim está solteiro na área. “Esse diferencial, no período de seca, torna a cultivar mais indicada para a ILPF, podendo contribuir com o aumento de produtividade desses sistemas”, explica Souza Sobrinho.

Antes da BRS Integra, a cv. Kennedy era a cultivar de ruziziensis existente no mercado de sementes forrageiras. O problema é que ela não foi desenvolvida especificamente para as condições edafoclimáticas (solo e clima) brasileiras. Para o pesquisador, apesar de possuir boa adaptação às diferentes condições ambientais do País, a cultivar Kennedy apresenta menor produção de forragem se comparada a cultivares de outras espécies de braquiária como a brizantha ou a decumbens. “Isso acontece principalmente no inverno, durante a entressafra das lavouras, quando nos sistemas integrados de cultivo, as forrageiras se encontram sozinhas na área ou acompanhadas apenas pelo componente florestal”, explica Souza Sobrinho.


Ao manter a produtividade alta no inverno, a BRS Integra pode ser aproveitada tanto como forragem para alimentação do gado na entressafra, quanto como palhada para o próximo plantio das lavouras.

O cientista explica ainda que, embora a brizantha e a decumbens possuam maior área cultivada no País, a ruziziensis vem aumentando seu espaço com o incremento da ILPF. “A espécie tem sido muito utilizada nesses sistemas devido à sua melhor adaptação à sobressemeadura em relação às demais. O também pesquisador da Embrapa Alexandre Brighenti aponta outra vantagem. “A ruziziensis é mais sensível a herbicidas, demandando doses mais baixas na dessecação pré-semeadura de cultivos em sistemas de plantio direto.” Além disso, a produção de sementes da espécie é uniforme, pois só floresce uma vez por ano, tornando o seu controle mais fácil.


O novo nome da BrachiariaUrochloa

Originária da África, ela possui boa adaptabilidade a solos de baixa fertilidade e a diferentes climas e latitudes, além de apresentar agressividade na competição com plantas daninhas e proporcionar bom desempenho animal. Essas qualidades fizeram do gênero braquiária quase um sinônimo de pastagem. Cultivada em regiões tropicais, a gramínea possui uma centena de espécies. Além da ruziziensis, outras bastante conhecidas e utilizadas no Brasil são decumbens, brizantha e humidicola.

De um total 180 milhões de hectares de pastagens no País, 80% pertencem ao gênero Brachiaria. Ou pertenciam. Recentemente, os cientistas reclassificaram quase todas as braquiárias para o gênero Urochloa. A reclassificação segue critérios taxonômicos (normas de classificação) cuja função é organizar vegetais e animais, facilitando o estudo e a identificação dos organismos vivos. Dessa forma, cada planta ou animal ganha nome (gênero) e sobrenome (espécie), mas mudanças podem ocorrer para facilitar o trabalho dos cientistas.

Foi o que aconteceu com a Brachiaria. No entanto, por questões legais, desde a última reclassificação taxinômica, a nomenclatura científica para o “capim braquiária” passa a ser “Urochloa (sinonímia, Brachiaria)” ou “Brachiaria (sinonímia, Urochloa)”. A sorte é que, para o produtor, nada muda e a “brachiaria” pode continuar sendo chamada de braquiária, como fizemos nesta reportagem. O mesmo serve para as expressões idiomáticas e ninguém precisa “vazar na urochloa” se quiser sair rapidamente de algum lugar. “Vazar na braquiária” ainda é uma forma válida de se retirar.


Recomendações da Embrapa para o cultivo da BRS Integra

Composta por plantas vigorosas, de porte médio, com altura entre 80 cm a 110 cm, a BRS Integra possui boa capacidade de cobertura do solo e o crescimento tende a ser ereto. Suas folhas possuem o terço final arqueado e medem em média 25 cm (comprimento) e 1,5 cm (largura). A planta apresenta colmos finos e alta taxa de perfilhamento tanto basal como axilar (perfilhos aéreos). No campo experimental da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco (MG), o florescimento ocorre nos meses de fevereiro e março e a maturação das sementes, em abril e maio. Comparativamente à cv. Kennedy, a produção de forragem total e palhada da nova cultivar no outono/inverno (período seco em boa parte do País) é maior. Indicada para o Bioma Mata Atlântica, a BRS Integra se adapta a solos de média a alta fertilidade, podendo ser cultivada desde o nível do mar até 1.800 metros de altitude.

Os pesquisadores recomendam evitar o plantio em áreas de várzeas úmidas ou sujeitas a alagamentos. Se a semeadura for exclusiva, ou seja, para a formação do pasto, o solo deve ser preparado de forma convencional, efetuando-se arações e gradagens, conforme a necessidade e condição do terreno. Na semeadura, é necessária atenção especial no controle de plantas daninhas para não comprometer o estabelecimento e a longevidade da pastagem. No caso de plantios consorciados, nos sistemas integrados de cultivo, a semeadura poderá ser realizada concomitantemente às lavouras. Outra forma é realizar o plantio, com um atraso de alguns dias em relação à lavoura, a fim de evitar ou reduzir a competição inicial com ela e, ainda, por meio da sobressemeadura próxima à colheita da lavoura.

- Calagem – deve ser realizada com antecedência mínima de 60 dias em relação à data prevista para a semeadura, com base nos resultados da análise de solo, visando alcançar 50% de saturação por bases, utilizando-se de calcário dolomítico, nas condições de baixo teor de Mg+2 aplicado antes da aração do solo, aumentando assim, a eficiência na correção da acidez.

- Adubação de estabelecimento ou de plantio – precisa ser baseada nos resultados da análise de solo. Nas condições tropicais, os maiores limitantes em relação à fertilidade do solo estão relacionados aos baixos teores de fósforo e à acidez dos solos. Sendo assim, recomenda-se apenas a aplicação de adubação fosfatada, na base de 100 kg/ha de P2O5, distribuídos no fundo dos sulcos, ou a lanço. A aplicação do potássio deverá ser realizada quando o teor de potássio trocável no solo for inferior a 50 mg/dm3, numa dose de 80 a 100 kg/ha de cloreto de potássio (KCl).

- Adubação de manutenção/cobertura – deve ser realizada 60 dias após a semeadura, sendo recomendada a aplicação de 200 kg de N e K2O e 50 kg de P2O5 por hectare/ano, fracionadas em três aplicações iguais, (início, meio e fim da época chuvosa). O adubo fosfatado poderá ser aplicado de uma única vez no início da estação chuvosa. As adubações devem ser realizadas ao longo da estação das águas, quando as condições de umidade do solo forem favoráveis.

- Semeadura - A semeadura pode ser realizada tanto com máquinas quanto a lanço, utilizando sementes de alta qualidade entre dois a dez quilos/ha de sementes puras viáveis.  Quando o propósito é a semeadura direta, visando apenas a produção de palhada, normalmente recomenda-se menores quantidades de sementes. Semeaduras à lanço requerem maiores quantidades de sementes, que devem ser aumentadas quando o objetivo for a formação e o estabelecimento rápido de uma pastagem.

Cigarrinhas-das-pastagens – A BRS Integra é suscetível às cigarrinhas-das-pastagens, assim como a cv. Kennedy.

 


O desenvolvimento da BRS Integra

O fato de só haver uma cultivar de ruziziensis disponível no mercado de sementes, sem informações detalhadas sobre seu potencial forrageiro, dificultava a expansão da área cultivada. “Associado ao aumento crescente da área cultivada com ruziziensis, o problema levou a Embrapa a pesquisar novas cultivares capazes de atender a demanda da pecuária brasileira”, conta Souza Sobrinho. Segundo ele, o desenvolvimento da espécie primou pela obtenção de cultivares de alta produtividade e boa qualidade da forragem. A possibilidade do uso em sistemas de ILPF, que se expandiram na última década, traçou o caminho do desenvolvimento da BRS Integra.

“O programa de melhoramento teve como estratégia a seleção recorrente fenotípica, que se baseia em ciclos de avaliação, identificação e seleção dos melhores indivíduos e sua recombinação para obtenção de novas populações melhoradas, ou seja, com frequências mais elevadas dos alelos desejáveis”, explica o pesquisador. A existência de variabilidade genética entre progênies ou plantas de ruziziensis para todas as características avaliadas, observada nos primeiros ciclos, tem impulsionado o programa de melhoramento genético da espécie e mostrado a possibilidade de seleção de genótipos superiores.

Ao fim do terceiro ciclo de seleção foram obtidas 14 populações melhoradas para avaliações posteriores. Esses grupos foram identificados basicamente pela superioridade em relação à produtividade e à qualidade da forragem. A população denominada "REC 2" se destacou nas avaliações posteriores, incluindo os ensaios para determinação do valor de cultivo e uso (VCU) sob corte, realizados entre os anos de 2013 e 2016. O material genético também foi testado sob pastejo seguindo as normas de VCU do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), nos anos de 2016 a 2018. Nesses ensaios de pastejo, a população "REC 2" mostrou-se semelhante à cultivar comercial (Kennedy) tanto em produtividade de forragem como em desempenho animal.

Semelhanças entre as duas cultivares também foram verificadas em ensaios comparativos da produtividade de leite de vacas mestiças. Nesse caso, embora a produtividade animal tenha sido semelhante, a BRS Integra confirmou os resultados obtidos nos ensaios de VCU sob corte, produzindo maiores quantidades de forragem e de folhas e menores quantidades de material morto na época seca do ano, além de apresentar melhor relação entre folhas e caules na maior parte do ano, comparado à Kennedy.

A população "REC 2", após confirmada sua superioridade nos ensaios de VCU, foi registrada no MAPA como nova cultivar sob o número 40794, em 29/04/2019, sendo denominada de U. ruziziensis “BRS Integra”.  Essa nova cultivar recebeu, junto ao MAPA, certificado de proteção de cultivares número 20210042 em 21/01/2021.

 

Rubens Neiva (MTb 5.445/MG)
Embrapa Gado de Leite

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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Bacillus aryabhattai: conheça este microrganismo e seus benefícios para a agricultura

 


Nos últimos anos, a agricultura tem vivenciado um aumento significativo dos estudos relacionados à microbiota do solo e suas funções: o número de pesquisas em relação a eles cresceu praticamente 13 vezes em relação ao início dos anos 90. Esse aumento é justificado em grande parte pelo desenvolvimento de técnicas moleculares que propiciaram a constante descoberta de novas funções e benefícios que esses seres microscópicos promovem na agricultura, como por exemplo a espécie Bacillus aryabhattai. Conheça este microrganismo e seus benefícios para a agricultura!

O que é o Bacillus aryabhattai?

Bacillus aryabhattai, também conhecido como rainha da noite, é uma espécie de rizobactéria gram positiva, em formato de bastonete, que foi isolada e identificada pela primeira vez em 2009.

Descoberta que foi atribuída a S. Shibavi e outros pesquisadores autores do artigo Janibacter hoylei sp. nov., Bacillus isronensis sp. nov. and Bacillus aryabhattai sp. nov., isolated from cryotubes used for collecting air from the upper atmosphere.

                   Colonização das raízes das plantas pela rizobactéria Bacillus aryabhattai. (Fonte: PARK et al., 2017)

Desde então, diversas estirpes têm sido isoladas da rizosfera de vários lugares do mundo, incluindo o Brasil. No país, o Bacillus aryabhattai foi encontrado na rizosfera do mandacaru (Cereus jamacaru), importante cacto da região da Caatinga.

Mas, por que a bactéria rainha da noite tem atraído o interesse de muitos pesquisadores e agricultores?

O potencial dos benefícios do Bacillus aryabhattai na agricultura

O uso do Bacillus aryabhattai na agricultura tem um enorme potencial e isso se deve à diversa gama de benefícios que essa bactéria pode trazer para as plantas. Eles vão desde o aumento da resistência aos estresses abióticos, como a seca, à disponibilização de nutrientes.

1) Aumento da resistência a estresses abióticos

O local no qual a bactéria Bacillus aryabhattai foi isolada no Brasil já começa a levantar as primeiras evidências do seu potencial uso na agricultura.

Microrganismos isolados de áreas sob efeito de estresses, geralmente apresentam mecanismos que conferem resiliência às comunidades microbianas, que precisam prosperar mesmo em condições adversas. E esse é o caso da bactéria rainha da noite.

Segundo a Embrapa, quando as bactérias tolerantes à seca colonizam o sistema radicular das plantas sob estresse abiótico, elas produzem substâncias que hidratam as raízes, chamadas exopolissacarídeos.

Com as raízes mais hidradatas, o conteúdo relativo de água das plantas aumenta e elas conseguem lidar melhor com condições de estresse hídrico.

Esse efeito foi relatado, por exemplo, no estudo Potential of phosphate solubilizing bacillus strains for improving growth and nutrient uptake in mugbean and maize crops, de autoria de Maqshoof Ahmad e outros pesquisadores.

Após uma série de testes eles observaram que houve um incremento de 32% no conteúdo relativo de água da cultura do milho co-inoculada com B. aryabhattai S10 e outra espécie do gênero.

2) Melhoria da resistência a pragas e doenças

Além de ajudar as plantas a lidar melhor com os estresses hídricos, diversos estudos também mostram que cepas do Bacillus aryabhattai podem atuar como agentes de controle biológico de nematoides.

Um deles é o artigo On the potential of Bacillus aryabhattai KMT-4 against Meloidogyne javanica, de Sonam Antil e outros pesquisadores.

Nesse estudo, os pesquisadores analisaram a ação das bactérias da espécie Bacillus aryabhattai  no controle da infecção de plantas por um tipo de nematoide das galhas, e verificaram que a inoculação do Bacillus foi eficiente contra o patógeno.

Sonam Antil e seus colegas explicam que o Bacillus aryabhattai possui diversos mecanismos para controlar os nematoides, que vão desde a produção de enzimas para degradação da parede celular dos ovos, à competição por recursos da área.

Assim, em uma situação em que esses microrganismos colonizam o sistema radicular vegetal, esses mecanismos de controle auxiliam as plantas a lidarem de maneira mais eficiente com os agentes patogênicos.

3) Promoção do crescimento das plantas

Outro efeito da inoculação das plantas com o Bacillus aryabhattai observado por Sonam Antil e seus colegas no artigo On the potential of Bacillus aryabhattai KMT-4 against Meloidogyne javanica foi a melhoria do crescimento vegetal.

Alguns estudos apontam que o Bacillus aryabatthai promove a regulação e produção de hormônios  e reguladores vegetais, como o ácido abscísico (ABA) e o ácido jasmônico (AJ), o que ajuda no crescimento das plantas.

É o caso do trabalho Bacillus aryabhattai SRB02 tolerates oxidative and nitrosative stress and promotes the growth of soybean by modulating the production of phytohormones, no qual Yeon-Gyeong Park avaliaram o impacto da aplicação do Bacillus aryabatthai na cultura da soja.

Enquanto os hormônios e reguladores vegetais reduzem os efeitos dos estresses abióticos nas plantas, os mecanismos de promoção de crescimento vegetal envolvem:

Efeitos da inoculação da Bacillus aryabhattai em diferentes tratamentos na cultura da soja. (Fonte: PARK et al., 2017)


Mas, como o Bacillus aryabhattai ajuda a melhorar a disponibilização de nutrientes para as plantas?

4) Disponibilização de macro e micronutrientes

Os nutrientes são essenciais para as plantas, assim como os alimentos são para os seres humanos. São eles que participam de processos metabólicos e fisiológicos que fazem com que elas cresçam e produzam de forma adequada.

A maior parte dos nutrientes que as plantas usam para se desenvolver vem do solo. E os microrganismos benéficos como o Bacillus aryabhattai podem ajudar na disponibilização desses nutrientes para elas.

Estudos indicam o potencial dessa bactéria para melhorar a disponibilização tanto de macronutrientes quanto de micronutrientes.

– Macronutrientes

Os macronutrientes são aqueles que são exigidos em maior quantidade pelas plantas. São eles: nitrogênio, fósforo, potássio, além de cálcio, magnésio e enxofre.

Ainda no trabalho Potential of phosphate solubilizing bacillus strains for improving growth and nutrient uptake in mugbean and maize crops, Maqshoof Ahmad e seus colegas explicam que as bactérias do gênero Bacillus ajudam a disponibilizar macronutrientes como o fósforo através de diferentes mecanismos.

O primeiro deles é diminuindo o pH do meio. Depois, elas também produzem ácidos orgânicos como o ácido lático, ácido cítrico, ácido glucônico, ácido malônico e ácido succínico. Elas ainda produzem enzimas de fosfatase para ajudar nesse processo de disponibilização de fósforo.

Além do fósforo, Maqshoof Ahmad identificaram que o Bacillus aryabhattai foi capaz de melhorar a disponibilização de nitrogênio e potássio. E mais: em uma taxa superior a outra bactéria do mesmo gênero avaliada no estudo.

– Micronutrientes

Já os micronutrientes são aqueles que são essenciais para as plantas, mas em menores quantidades. São exemplos de micronutrientes: boro, ferro, zinco, níquel, manganês, cobre, molibdênio e cloro.

As substâncias produzidas pelo Bacillus aryabhattai também podem ajudar a disponibilizar alguns desses micronutrientes, como é o caso do zinco.

É o que escrevem Aketi Ramesh e outros estudiosos, no artigo Inoculation of zinc solubilizing Bacillus aryabhattai strains for improved growth, mobilization and biofortification of zinc in soybean and wheat cultivated in Vertisols of central India.

Os pesquisadores avaliaram como a presença do Bacillus aryabhattai impactou a concentração de zinco na rizosfera da soja e no trigo e descobriram que a bactéria aumentou os níveis do nutriente.

Dessa maneira, o uso do Bacillus aryabhattai pode ajudar a melhorar o manejo nutricional da lavoura. Mas, esse microrganismo ainda pode ajudar a agricultura de uma outra maneira.

5) Uso na biorremediação de poluentes

biorremediação de poluentes do agroecossistema é, a grosso modo, o processo através do qual os microrganismos do solo são utilizados para reduzir a concentração de substâncias poluentes no solo ou na água.

Estudos identificaram essa capacidade no Bacillus aryabhattai, como o realizado por Santanu Pailan, que observou o potencial da bactéria rainha da noite para degradação de inseticidas organofosforados, como o Paration.

Com tantos benefícios, como essa rizobactéria pode ser utilizada no campo?

A aplicação de Bacillus aryabhattai nas lavouras

inoculação consiste em uma das principais formas de introduzir e manejar determinada espécie de microrganismo do solo.

A inoculação nada mais é que a introdução de espécies de microrganismos em um ambiente, para que eles possam crescer junto com as plantas e formar relações com elas. A forma como ela é feita varia de acordo com o microrganismo utilizado e também o tipo de inoculante que funciona como veículo para o processo.

Dependendo da forma do produto, ele pode ser aplicado na semente ou nos sulcos onde as sementes irão ser plantadas, ou ainda, pode ser incorporado a outros insumos agrícolas, como os fertilizantes.

Assim, os microrganismos vão se desenvolver e coabitar junto com as plantas, estabelecendo suas interações simbióticas e passam a realizar seus processos biológicos que irão trazer benefícios mútuos.

Entretanto, vale-se ressaltar que não basta apenas introduzir o B. aryabhattai na sua lavoura, é preciso criar condições ótimas para o seu crescimento e desenvolvimento.

Como preservar os microrganismos do solo?

Para cuidar da vida no solo, é preciso que o agricultor se atente a todas as práticas agrícolas que possam alterar as propriedades do solo e interferir no desenvolvimento dos microrganismos.

Nesse sentido, é muito importante que sejam adotadas práticas agrícolas mais conservacionistas, que envolvam, por exemplo, o revolvimento mínimo do solo, a conservação e aumento do teor de matéria orgânica do solo e o uso reduzido de insumos agrícolas com elevado teor salino e de cloro.

Assim, a prática de uma agricultura mais sustentável é capaz de favorecer a vida no solo e proporcionar todos os benéficos que microrganismos, como o Bacillus aryabhattai, são capazes de proporcionar no campo!

Fonte: VERDE Blog

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