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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Agricultura de precisão: entenda como ela pode otimizar a adubação potássica



A agricultura de precisão pode se tornar uma importante ferramenta no planejamento e tomada de decisão do manejo nutricional da lavoura, especialmente, de nutrientes que são exigidos em grandes quantidades pelas culturas, como o potássio. Entenda mais sobre o que é a agricultura de precisão e como ela pode otimizar a adubação potássica!

O que é a agricultura de precisão?

A agricultura de precisão é uma ciência dentro da chamada agricultura 4.0 ou agricultura digital, que se dedica a estudar e desenvolver sistemas de gerenciamento agrícola que considerem as especificidades espaciais e temporais de cada ponto dentro de uma propriedade rural.

O manejo dessa variabilidade espacial e temporal dentro de um sistema de produção busca proporcionar o uso mais racional dos insumos agrícolas, proporcionando a redução das perdas e do impacto ambiental, além de melhorar a rentabilidade da lavoura.

Esse processo se dá de uma forma cíclica, que se inicia com a coleta dos dados, análises e interpretação das informações obtidas com o uso de tecnologias de informação, gerando as recomendações que serão aplicadas no campo e, posteriormente, culminando na avaliação dos resultados para que o ciclo mais uma vez se reinicie.

Washington Luiz, sócio fundador e administrador da Agrospeed, ainda ressalta que quanto mais ciclos vão passando, mais assertivas e precisas vão ficando cada uma dessas etapas.

Apesar do surgimento do termo ainda não ter completado meio século, as diversas constatações e observações científicas que levaram a sua criação datam desde o início do século XX.

Porém, foi somente no final da década de 1980 que surgiram os primeiros mapas de produtividade e as primeiras adubações automatizadas à taxa variável, na Europa e nos Estados Unidos, respectivamente.

O uso dessas novas tecnologias se tornou uma das bases que consolidaram a criação do Congresso Internacional de Agricultura de Precisão (ICPA) e posteriormente a Sociedade Internacional de Agricultura de Precisão (ISPA).

Uma década mais tarde, em 1990, a agricultura de precisão chegou ao Brasil com a importação de máquinas agrícolas com capacidade de fazer o mapeamento das propriedades agrícolas, especialmente de colheitadeiras equipadas com monitores de produtividade de grãos máquinas agrícolas.

As primeiras máquinas nacionais aplicadoras para taxas variáveis de granulados e pós foram fabricadas no início dos anos 2000, impulsionando o movimento brasileiro para a agricultura de precisão e diversas outras iniciativas, como:

  • Primeiro simpósio sobre agricultura de Precisão, realizado na Universidade de São Paulo, Campus Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz;
  • Primeiro Simpósio Internacional de Agricultura de Precisão (SIAP), realizado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV);
  • Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão (ConBAP), realizado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP);
  • Criação da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão, um órgão consultivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) oficializado em 2012.

Hoje, tecnologias da agricultura de precisão, como o Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS), o sensoriamento remoto orbital, o Sistema de Informação Geográfica, o geoprocessamento e a aerofotogrametria, compõem um mercado com uma taxa de crescimento anual composta de mais de 10% e que podem atingir a marca de quase 9,5 bilhões de dólares em 2024.

Dados estes que foram apresentados pelo relatório Global Markets for Precision Farming, publicado pela BCC Research.

Mas, como esse aquecido setor que vem conquistando o mercado global e nacional pode potencializar os resultados obtidos com a adubação potássica nas lavouras?

A agricultura de precisão e a adubação potássica

A aplicação da agricultura de precisão possibilita uma abordagem mais inteligente dos processos envolvidos na produção agrícola, uma vez que ela está fundamentada no fato de que as lavouras não são uniformes no espaço nem no tempo.

Um exemplo claro dessa discrepância pode ser encontrado no artigo Fertilização potássica analisada economicamente com ferramentas de agricultura de precisão. Nesse estudo, Diego Schmidt Schossler e outros pesquisadores constataram uma expressiva variabilidade espacial dos teores de potássio do solo, com um coeficiente de variação mais de 20% nas duas safras, o que justificou o manejo localizado.




Mapa revelando a grande variabilidade espacial dos teores de potássio no solo. (Fonte: SCHOSSLER et al., 2011)

A criação dessa diferenciação espacial e temporal na coleta e tratamento de dados para o manejo cultural, permite um uso cada vez mais racional e otimizado de insumos agrícolas.

Isso porque o entendimento dos níveis de fertilidade do solo em cada parte da propriedade se torna mais aprofundado, permitindo cálculos cada vez mais precisos da quantidade de nutrientes que, consequentemente, reduzem as perdas por excesso de aplicação e desbalanceamento nutricional.

É o que notam os pesquisadores Rodolfo Bongiovanni e James Lowenberg-DeBoer, no artigo Precision agriculture and sustainability.

Ainda no artigo Fertilização potássica analisada economicamente com ferramentas de agricultura de precisão, Diego Schmidt Schossler e seus colegas pesquisadores conseguiram reduzir a 65% a aplicação em relação à exportação com potássio em áreas com teores acima do teor crítico da cultura da soja para obter a melhor relação custo/benefício.

Mas, será que são só os teores de potássio no solo que permitem um manejo mais otimizado da adubação potássica? Não, outro recurso que vem sendo muito utilizado pelos agricultores é o índice de vegetação com diferença normalizada, também conhecido por NDVI.

O NDVI é capaz de determinar o índice de vegetação ou vigor vegetativo de uma lavoura, através da mensuração da reflectância das folhas. Em condições adequadas, a refletância das folhas na faixa do espectro visível e alta reflectância no infravermelho próximo é menor do que daquelas submetidas à condições de estresses, como a falta de nutrientes por exemplo.

Logo, é possível orientar a adubação potássica através do índice de NDVI e torná-la mais eficiente.

No estudo Sensing development of a soybean canopy under p or k nutritional stress, Martin M. Navarro concluiu que houve uma correlação positiva entre NDVI com potássio foliar nos estádios iniciais de desenvolvimento da soja, sendo o início do estádio reprodutivo o ponto em que o NDVI foi mais sensível à deficiência de potássio.

Mas, para alcançar uma recomendação de adubação potássica otimizada com o uso das tecnologias da agricultura de precisão é preciso se atentar a representatividade e interpretação dos dados.

A importância do uso correto das tecnologias da agricultura de precisão para otimizar a adubação potássica

Dra. Roberta Nogueirol, pós-doutora em Fitotecnia e Bioquímica de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP), ressalta que a recomendação de insumos mais assertiva parte do cuidado com a qualidade no uso das tecnologias da agricultura de precisão:

“Devemos ter cuidado em todo o processo para termos uma recomendação de insumos mais assertiva, desde a confecção da grade amostral à recomendação em si. Isso porque o manejo da fertilidade do solo depende de uma amostragem representativa e da interpretação correta dos dados obtidos, para que se possa tomar as decisões acertadas na condução da lavoura.”

Ela explica que uma amostra de solo, por exemplo, vai representar uma quantidade de solo aproximadamente 4 milhões de vezes maior, se for levado em consideração que os laboratórios utilizam apenas 5 cm3 de solo para cada determinação química.

Por isso, aspectos que vão desde o treinamento à escolha da metodologia correta para análise do solo são tão importantes para otimizar a adubação potássica através do uso das tecnologias da agricultura de precisão.


Fonte: VERDE Blog

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O manejo agrícola como ferramenta para aumentar a matéria orgânica do solo

 


A matéria orgânica do solo é uma peça-chave para qualquer sistema agrícola produtivo. Ela serve como um termômetro do estado de saúde do solo, estando relacionada a diversos processos essenciais, que vão desde a fixação de carbono à ciclagem de nutrientes. Mas, nem sempre adicionar a matéria orgânica é suficiente para aumentar os seus teores no solo, já que outros fatores, como o manejo agrícola, exercem uma grande influência nessa relação.

A importância da matéria orgânica para o solo

A matéria orgânica (MO) é um constituinte chave do solo, pois ela é capaz de influenciar os seus diferentes componentes químicos, físicos e biológicos. Diego Pelizari explicou que esta influência pode ter um grande impacto na produtividade agrícola, já que ela está envolvida com diversos aspectos da qualidade do solo, como:

  • Fonte de energia e nutrientes para os microrganismos do solo;
  • Estrutura do solo (aeração e permeabilidade);
  • Retenção de água e nutrientes;
  • Mineralização de nutrientes

“Quando olhamos para o solo, nós temos uma fase sólida ou “geladeira”, onde a maior parte dos nutrientes se encontram aderidos nas partículas de solo e da matéria orgânica, e a solução do solo, que pode ser considerada o “prato de comida” da planta”, complementou ele.

Essa influência também se estende para além do solo. Diego Pelizari destacou que o incremento da matéria orgânica no solo pode ter uma contribuição significativa na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

A primeira contribuição mais direta está relacionada à deposição de carbono no solo. Como as plantas são capazes de reter o carbono da atmosfera, a presença delas, seja na forma viva ou nos vários estágios de decomposição, resulta em um maior “estoque” de carbono no solo.

Para que esse carbono estocado seja retido no solo, é necessário haver a atuação dos microrganismos. Estes por sua vez são favorecidos pela presença de matéria orgânica no solo, já que ela é uma importante fonte de energia e nutrientes.

Diego Pelizari ressaltou como processos como a compostagem podem ajudar a incrementar a matéria orgânica e a biodiversidade do solo:

“Podemos favorecer o aumento da biodiversidade do solo com o uso da compostagem, cobertura morta, rotação de culturas, que melhoram a estrutura do solo, transferência de água e estocagem de carbono.”

Porém, o acúmulo a longo prazo do carbono no solo vai depender também de outros fatores, que podem ou não ser controlados pelo agricultor, como:

O que é matéria orgânica?

Segundo a Encyclopedia of Soil Science, a matéria orgânica pode ser definida como todos os derivados de materiais vegetais e animais incorporados ao solo ou dispostos sobre sua superfície, na forma viva ou nos vários estágios de decomposição, excluindo-se a parte aérea das plantas.

Diego Pelizari destacou que as principais constituintes de matéria orgânica em um agrossistema são:

“Dentro da fração solo, nós temos uma parte que é a matéria orgânica estável (húmus), que tem um período de permanência maior no solo, e a matéria orgânica prontamente decomponível, que está pronta para ser decomposta em curto prazo, além dos organismos vivos”, acrescentou ele.

Uma das formas de transformar a matéria orgânica prontamente decomponível em estável, visando prolongar o seu tempo de permanência no solo, é através da compostagem.

O processo de compostagem é uma técnica que envolve decomposição controlada de matéria orgânica rica em elementos nutritivos, como resíduos animais e vegetais, por meio da ação dos microrganismos.

Entre os benefícios da compostagem, Diego Pelizari ressaltou a disponibilização mais rápida dos nutrientes e a eliminação de possíveis contaminantes e sementes viáveis de plantas daninhas.

Então, adicionar compostos orgânicos no solo é suficiente para garantir o bom aproveitamento dos benefícios da matéria orgânica? Não, na maioria das vezes, é necessário controlar os diversos fatores que afetam a sua dinâmica do solo.

Como o manejo pode favorecer o uso eficiente da matéria orgânica do solo

Quando pensamos na matéria orgânica como fonte de nutrientes para plantas, os aspectos que mais precisam ser manejados são aqueles que interferem no processo de mineralização da matéria orgânica.

A mineralização nada mais é do que o processo de conversão de uma substância orgânica a inorgânica, que é a forma como os nutrientes são absorvidos pelas plantas.

Diego Pelizari pontuou que é possível favorecer a mineralização da matéria orgânica fornecendo, por exemplo, condições aeróbias, boa disponibilidade de água e faixas adequadas de temperatura e pH.

Condições estas que foram demonstradas por Shinsuke Agehara e Darryl D. Warncke no artigo Soil moisture and temperature effects on nitrogen release from organic nitrogen sources.

Por isso, Diego Pelizari mencionou ser imprescindível olhar de uma forma sistêmica para lavoura e entender que muitas vezes uma deficiência nutricional não está associada só com a deficiência de nutrientes, por exemplo.


Fonte: VERDE Blog

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Bacillus aryabhattai: conheça este microrganismo e seus benefícios para a agricultura

 


Nos últimos anos, a agricultura tem vivenciado um aumento significativo dos estudos relacionados à microbiota do solo e suas funções: o número de pesquisas em relação a eles cresceu praticamente 13 vezes em relação ao início dos anos 90. Esse aumento é justificado em grande parte pelo desenvolvimento de técnicas moleculares que propiciaram a constante descoberta de novas funções e benefícios que esses seres microscópicos promovem na agricultura, como por exemplo a espécie Bacillus aryabhattai. Conheça este microrganismo e seus benefícios para a agricultura!

O que é o Bacillus aryabhattai?

Bacillus aryabhattai, também conhecido como rainha da noite, é uma espécie de rizobactéria gram positiva, em formato de bastonete, que foi isolada e identificada pela primeira vez em 2009.

Descoberta que foi atribuída a S. Shibavi e outros pesquisadores autores do artigo Janibacter hoylei sp. nov., Bacillus isronensis sp. nov. and Bacillus aryabhattai sp. nov., isolated from cryotubes used for collecting air from the upper atmosphere.

                   Colonização das raízes das plantas pela rizobactéria Bacillus aryabhattai. (Fonte: PARK et al., 2017)

Desde então, diversas estirpes têm sido isoladas da rizosfera de vários lugares do mundo, incluindo o Brasil. No país, o Bacillus aryabhattai foi encontrado na rizosfera do mandacaru (Cereus jamacaru), importante cacto da região da Caatinga.

Mas, por que a bactéria rainha da noite tem atraído o interesse de muitos pesquisadores e agricultores?

O potencial dos benefícios do Bacillus aryabhattai na agricultura

O uso do Bacillus aryabhattai na agricultura tem um enorme potencial e isso se deve à diversa gama de benefícios que essa bactéria pode trazer para as plantas. Eles vão desde o aumento da resistência aos estresses abióticos, como a seca, à disponibilização de nutrientes.

1) Aumento da resistência a estresses abióticos

O local no qual a bactéria Bacillus aryabhattai foi isolada no Brasil já começa a levantar as primeiras evidências do seu potencial uso na agricultura.

Microrganismos isolados de áreas sob efeito de estresses, geralmente apresentam mecanismos que conferem resiliência às comunidades microbianas, que precisam prosperar mesmo em condições adversas. E esse é o caso da bactéria rainha da noite.

Segundo a Embrapa, quando as bactérias tolerantes à seca colonizam o sistema radicular das plantas sob estresse abiótico, elas produzem substâncias que hidratam as raízes, chamadas exopolissacarídeos.

Com as raízes mais hidradatas, o conteúdo relativo de água das plantas aumenta e elas conseguem lidar melhor com condições de estresse hídrico.

Esse efeito foi relatado, por exemplo, no estudo Potential of phosphate solubilizing bacillus strains for improving growth and nutrient uptake in mugbean and maize crops, de autoria de Maqshoof Ahmad e outros pesquisadores.

Após uma série de testes eles observaram que houve um incremento de 32% no conteúdo relativo de água da cultura do milho co-inoculada com B. aryabhattai S10 e outra espécie do gênero.

2) Melhoria da resistência a pragas e doenças

Além de ajudar as plantas a lidar melhor com os estresses hídricos, diversos estudos também mostram que cepas do Bacillus aryabhattai podem atuar como agentes de controle biológico de nematoides.

Um deles é o artigo On the potential of Bacillus aryabhattai KMT-4 against Meloidogyne javanica, de Sonam Antil e outros pesquisadores.

Nesse estudo, os pesquisadores analisaram a ação das bactérias da espécie Bacillus aryabhattai  no controle da infecção de plantas por um tipo de nematoide das galhas, e verificaram que a inoculação do Bacillus foi eficiente contra o patógeno.

Sonam Antil e seus colegas explicam que o Bacillus aryabhattai possui diversos mecanismos para controlar os nematoides, que vão desde a produção de enzimas para degradação da parede celular dos ovos, à competição por recursos da área.

Assim, em uma situação em que esses microrganismos colonizam o sistema radicular vegetal, esses mecanismos de controle auxiliam as plantas a lidarem de maneira mais eficiente com os agentes patogênicos.

3) Promoção do crescimento das plantas

Outro efeito da inoculação das plantas com o Bacillus aryabhattai observado por Sonam Antil e seus colegas no artigo On the potential of Bacillus aryabhattai KMT-4 against Meloidogyne javanica foi a melhoria do crescimento vegetal.

Alguns estudos apontam que o Bacillus aryabatthai promove a regulação e produção de hormônios  e reguladores vegetais, como o ácido abscísico (ABA) e o ácido jasmônico (AJ), o que ajuda no crescimento das plantas.

É o caso do trabalho Bacillus aryabhattai SRB02 tolerates oxidative and nitrosative stress and promotes the growth of soybean by modulating the production of phytohormones, no qual Yeon-Gyeong Park avaliaram o impacto da aplicação do Bacillus aryabatthai na cultura da soja.

Enquanto os hormônios e reguladores vegetais reduzem os efeitos dos estresses abióticos nas plantas, os mecanismos de promoção de crescimento vegetal envolvem:

Efeitos da inoculação da Bacillus aryabhattai em diferentes tratamentos na cultura da soja. (Fonte: PARK et al., 2017)


Mas, como o Bacillus aryabhattai ajuda a melhorar a disponibilização de nutrientes para as plantas?

4) Disponibilização de macro e micronutrientes

Os nutrientes são essenciais para as plantas, assim como os alimentos são para os seres humanos. São eles que participam de processos metabólicos e fisiológicos que fazem com que elas cresçam e produzam de forma adequada.

A maior parte dos nutrientes que as plantas usam para se desenvolver vem do solo. E os microrganismos benéficos como o Bacillus aryabhattai podem ajudar na disponibilização desses nutrientes para elas.

Estudos indicam o potencial dessa bactéria para melhorar a disponibilização tanto de macronutrientes quanto de micronutrientes.

– Macronutrientes

Os macronutrientes são aqueles que são exigidos em maior quantidade pelas plantas. São eles: nitrogênio, fósforo, potássio, além de cálcio, magnésio e enxofre.

Ainda no trabalho Potential of phosphate solubilizing bacillus strains for improving growth and nutrient uptake in mugbean and maize crops, Maqshoof Ahmad e seus colegas explicam que as bactérias do gênero Bacillus ajudam a disponibilizar macronutrientes como o fósforo através de diferentes mecanismos.

O primeiro deles é diminuindo o pH do meio. Depois, elas também produzem ácidos orgânicos como o ácido lático, ácido cítrico, ácido glucônico, ácido malônico e ácido succínico. Elas ainda produzem enzimas de fosfatase para ajudar nesse processo de disponibilização de fósforo.

Além do fósforo, Maqshoof Ahmad identificaram que o Bacillus aryabhattai foi capaz de melhorar a disponibilização de nitrogênio e potássio. E mais: em uma taxa superior a outra bactéria do mesmo gênero avaliada no estudo.

– Micronutrientes

Já os micronutrientes são aqueles que são essenciais para as plantas, mas em menores quantidades. São exemplos de micronutrientes: boro, ferro, zinco, níquel, manganês, cobre, molibdênio e cloro.

As substâncias produzidas pelo Bacillus aryabhattai também podem ajudar a disponibilizar alguns desses micronutrientes, como é o caso do zinco.

É o que escrevem Aketi Ramesh e outros estudiosos, no artigo Inoculation of zinc solubilizing Bacillus aryabhattai strains for improved growth, mobilization and biofortification of zinc in soybean and wheat cultivated in Vertisols of central India.

Os pesquisadores avaliaram como a presença do Bacillus aryabhattai impactou a concentração de zinco na rizosfera da soja e no trigo e descobriram que a bactéria aumentou os níveis do nutriente.

Dessa maneira, o uso do Bacillus aryabhattai pode ajudar a melhorar o manejo nutricional da lavoura. Mas, esse microrganismo ainda pode ajudar a agricultura de uma outra maneira.

5) Uso na biorremediação de poluentes

biorremediação de poluentes do agroecossistema é, a grosso modo, o processo através do qual os microrganismos do solo são utilizados para reduzir a concentração de substâncias poluentes no solo ou na água.

Estudos identificaram essa capacidade no Bacillus aryabhattai, como o realizado por Santanu Pailan, que observou o potencial da bactéria rainha da noite para degradação de inseticidas organofosforados, como o Paration.

Com tantos benefícios, como essa rizobactéria pode ser utilizada no campo?

A aplicação de Bacillus aryabhattai nas lavouras

inoculação consiste em uma das principais formas de introduzir e manejar determinada espécie de microrganismo do solo.

A inoculação nada mais é que a introdução de espécies de microrganismos em um ambiente, para que eles possam crescer junto com as plantas e formar relações com elas. A forma como ela é feita varia de acordo com o microrganismo utilizado e também o tipo de inoculante que funciona como veículo para o processo.

Dependendo da forma do produto, ele pode ser aplicado na semente ou nos sulcos onde as sementes irão ser plantadas, ou ainda, pode ser incorporado a outros insumos agrícolas, como os fertilizantes.

Assim, os microrganismos vão se desenvolver e coabitar junto com as plantas, estabelecendo suas interações simbióticas e passam a realizar seus processos biológicos que irão trazer benefícios mútuos.

Entretanto, vale-se ressaltar que não basta apenas introduzir o B. aryabhattai na sua lavoura, é preciso criar condições ótimas para o seu crescimento e desenvolvimento.

Como preservar os microrganismos do solo?

Para cuidar da vida no solo, é preciso que o agricultor se atente a todas as práticas agrícolas que possam alterar as propriedades do solo e interferir no desenvolvimento dos microrganismos.

Nesse sentido, é muito importante que sejam adotadas práticas agrícolas mais conservacionistas, que envolvam, por exemplo, o revolvimento mínimo do solo, a conservação e aumento do teor de matéria orgânica do solo e o uso reduzido de insumos agrícolas com elevado teor salino e de cloro.

Assim, a prática de uma agricultura mais sustentável é capaz de favorecer a vida no solo e proporcionar todos os benéficos que microrganismos, como o Bacillus aryabhattai, são capazes de proporcionar no campo!

Fonte: VERDE Blog

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Como o fósforo acumulado no solo pode chegar à planta

 

Melhor aproveitamento do fósforo pode gerar economia com fertilizantes de até US$ 20 bilhões nas próximas décadas.

Equilibrar o nível de fósforo (P) na lavoura é um dos desafios à produtividade atrelada à sustentabilidade agrícola. De acordo o professor Paulo Pavinato, do departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o P é um dos nutrientes mais limitantes ao crescimento de plantas nos solos brasileiros. “Em geral, o problema não é a baixa concentração de P no solo, e sim, a baixa disponibilidade desse P às plantas. Grande parte (cerca de 70%) do P aplicado via fertilizantes (mineral ou orgânico) é acumulado no solo em formas pouco ou não acessíveis às plantas. Este P acumulado ou residual é conhecido como legacy P”.

Pavinato liderou um estudo, no qual verificou-se que desde os anos de 1960, cerca de 33,4 milhões de toneladas de P foram acumuladas nos solos agrícolas brasileiros. Segundo o estudo, essa quantia representa um acúmulo de 1,6 milhões de toneladas de P por ano nesta última década, e se seguirmos nesse ritmo serão mais de 100 milhões de toneladas acumuladas até 2050.

Manejo

Para os pesquisadores, a adoção de estratégias de manejo como calagem, sistema plantio direto com rotação de culturas, sistemas integrados, variedades melhoradas e inoculação de microorganismos solubilizadores de P podem proporcionar melhor aproveitamento desse P acumulado no solo. “Ações nesse sentido poderiam gerar uma economia de fertilizantes fosfatados na ordem de US$ 20 bilhões nas próximas décadas. Estes números chamam a atenção, e ilustram o enorme potencial que ainda temos para tornar a agricultura brasileira ainda mais eficiente, rentável e sustentável”, complementa o professor Maurício Cherubin, também do departamento de Ciência do Solo, um dos autores do estudo.

O artigo, intitulado Revealing soil legacy phosphorus to promote sustainable agriculture in Brazil, contou com a colaboração de pesquisadores da Bangor University – UK e pode ser acessado no link. A pesquisa contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Fonte: Grupo Cultivar 

Mapa publica extensão de uso de mais 17 defensivos agrícolas para pequenas culturas

 

As minor crops são culturas importantes pois estão presentes nas mesas dos cidadãos do mundo todo, sendo muitas vezes culturas de alto valor agregado, como frutas, hortaliças, leguminosas e outras. - Foto: Wenderson Araujo/CNA

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), aprovou a extensão de uso de mais 17 defensivos agrícolas para as culturas de suporte fitossanitário insuficiente (CSFI), também conhecidas como minor crops (pequenas culturas). A autorização foi publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira, 20 de outubro, no Ato n° 58 do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária. 

Para as culturas do amendoim, ervilha, feijões, grão-de-bico e lentilha são seis extrapolações de uso de diferentes ingredientes ativos - cloridrato de cartapelambda-cialotrina e diafentiurom e as misturas de dinotefuram com piriproxifemazoxistrobina com mancozebe, e lambda-cialotrina com clorantraniliprole -, porém são ingredientes que já tinham registro de pelo menos uma dessas culturas. 

O produto à base de Boscalida foi o que teve o maior número de inclusões de culturas em sua recomendação de uso, que conforme o agrupamento das CSFI, vai desde as frutas de casca não comestível, passando pelo grupo das frutas que possuem casca comestível, o das raízes e tubérculos, o das hortaliças folhosas e ervas aromáticas, até o grupo das leguminosas e oleaginosas. 

As culturas das hortaliças folhosas, além do produto já citado, foram contempladas com um fungicida que é uma mistura de fluxapiroxade com piraclostrobina para controle, principalmente, de mancha preta (Alternaria brassicae) e mal das folhas (Septoria lactucae). Outras pequenas culturas também tiveram a recomendação de uso incluída nesse produto. 

Nas culturas de milheto e sorgo foram incluídos produtos à base de carfentrazona-etílica e da mistura de clorantraniliprole com lambda-cialotrina. Já as culturas de batata-doce, batata-yacon, beterraba, cará, gengibre, inhame, mandioca, mandioquinha-salsa, nabo e rabanete foram contempladas com a extrapolação de uso de um produto à base de clorotalonil

A cultura da melancia ganhou um inseticida à base de teflubenzurom para controle de broca dos frutos (Diaphania nitidalis) e lagarta mede-palmo (Trichoplusia ni). Já para a uva foi um à base de lambda−cialotrina

Um produto cujo ingrediente ativo é captana que já era recomendado para cebola, pêssego e uva teve mais alvos biológicos incluídos em sua indicação de uso dessas culturas. O mesmo aconteceu com um produto à base de glufosinato – sal de amônio para a cultura da cevada. As frutas ameixa, cacau, nectarina, pera, pêssego, seringueira e uva que já possuem o uso do Glifosato autorizado, agora contam com mais um produto comercial com esse princípio ativo.  

Também foram incluídas na liberação de uso as CSFI que não são de uso alimentar. Neste caso, as plantas ornamentais foram contempladas com um produto à base de lambda-cialotrina com clorantraniliprole e a Duboisia, que é uma planta de uso medicinal da qual é extraído o princípio ativo do medicamento conhecido como ‘Buscopan’, teve a inclusão de dois produtos, sendo um à base de Clorotalonil e outro à base de fipronil

Segurança

Com as extensões aprovadas hoje, os produtores dessas culturas agora poderão utilizar esses produtos conhecendo as doses corretas para proteger seus cultivos e com a garantia de que esses alimentos serão seguros para o consumo. Recentemente, o Mapa já havia aprovado a extensão de uso de três defensivos agrícolas para as culturas minor crops

Por serem plantadas em áreas menores em comparação às grandes culturas, como soja e milho, as minor crops não apresentam atratividade econômica para a pesquisa privada no desenvolvimento e recomendação de pesticidas, o que dificulta a disponibilidade de produtos para o controle de pragas, sendo um problema para os agricultores dessas culturas. Entretanto, são culturas importantes pois estão presentes nas mesas dos cidadãos do mundo todo, sendo muitas vezes culturas de alto valor agregado, como frutas, hortaliças, leguminosas e outras.

A extensão de uso de defensivos agrícolas para as culturas de suporte fitossanitário insuficiente é o resultado de uma política governamental e ações em parceria com a academia, produtores rurais e indústria. 

O Ato publicado também traz diversas alterações de pós-registro dos defensivos agrícolas já registrados. 

Fonte: Grupo Cultivar 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Transformação digital contribui para gestão no campo

 

Tecnologias também apoiam do planejamento à comercialização da safra. - Foto: Wenderson Araujo/CNA

A Companhia Nacional de Abastecimento divulgou o primeiro levantamento da Safra 2020/21. A entidade estima que cerca de 268,7 milhões de toneladas de grãos serão colhidos, 11 milhões a mais que a última safra. O estudo aponta também o aumento da área cultivada, a expectativa é que cerca de 66,8 milhões de hectares sejam plantados neste ano, cerca de 879 mil hectares a mais que a última safra.  

Um dos fatores que contribui para o alcance destes números é a transformação digital no campo. Produtores rurais investem cada vez mais na agricultura digital, que promove inovação no agronegócio, com tecnologias que elevam a produtividade e proporcionam um maior controle sobre a gestão e produção de cultivos, quase que em tempo real.  

Tecnologias apoiam do planejamento à comercialização da safra  

A transformação digital pode ser aplicada em todas as etapas da cadeia agrícola e no campo ela vem sendo um grande apoio para um melhor gerenciamento de fazendas. O produtor rural quer crescer de acordo com as expectativas da Conab e para isso ele busca soluções tecnológicas que o apoiam no planejamento agrícola, gestão financeira e controle de custos. O agricultor está buscando controle operacional da sua fazenda em softwares, desenvolvidos exclusivamente para o agronegócio e que levam tecnologia ao campo.  

O Grupo Siagri, empresa que desenvolve tecnologia para o campo. Os softwares da companhia gerenciam mais de 1,7 milhão de hectares no Brasil e o diretor de serviços da empresa, Eduardo Purcena, avalia que os mais de 40 mil usuários podem ter ganhos efetivos, como a otimização de processos e fácil acesso a indicadores estratégicos. A solução permite que o produtor rural controle desde a compra de insumos até a comercialização dos grãos colhidos.  

“A transformação digital foi capaz de levar ao campo controle administrativo e operacional da fazenda, que é um negócio importante e precisa de uma gestão completa. O agricultor além de rentabilidade quer também controle fiscal, financeiro e conformidade com as legislações como o Livro Caixa do Produtor Rural. Graças a inovação tecnológica, as empresas como o Grupo Siagri vêm proporcionando isso ao produtor rural”, avalia Purcena.   

Transformação digital: monitoramento em tempo real  

Além do controle operacional da fazenda, a transformação digital é uma importante aliada no monitoramento da propriedade rural. Eduardo Purcena conta que o acompanhamento da lavoura pode ser um desafio para o agricultor e graças a tecnologia ele vem sendo superado. “O ERP do Grupo Siagri destinado à gestão de fazendas permite que o produtor rural acompanhe em tempo real o andamento dos seus cultivos. Por talhão, o agricultor consegue visualizar as aplicações feitas na lavoura. Isso ajuda no controle dos insumos e na tomada de decisões na fazenda.

Fonte: Grupo Cultivar

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Sergipe deverá ter maior safra de milho dos últimos 10 anos, segundo IBGE

 Seagri comemora resultado, que mantém Sergipe como 4º maior produtor do Nordeste

Dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), publicado pelo IBGE no último dia 8 de outubro, mantém a estimativa de 847.797 toneladas de milho para a safra 2020 em Sergipe. De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), se a previsão se confirmar, será a maior safra dos últimos de 10 anos, representando um aumento de 29,9% da produção em relação ao ano passado. O recorde também será contabilizado no rendimento médio de 5.509 kg/ha, que significa maior produtividade. A área colhida (154.893 ha) também será 11,8% maior que o ano passado.


De acordo com o secretário de Estado da Agricultura, André Luiz Bomfim, o resultado engrandece a agropecuária sergipana, colocando o estado como o 4º maior em produção (depois de Bahia, Piauí e Maranhão); e o 1º em rendimento médio (produtividade) na região Nordeste. “Mesmo em período de pandemia da Covid-19, o setor mostra sua força. Além das excelentes condições climáticas que favoreceram o plantio de milho, a força do trabalhador sergipano, as políticas públicas e incentivos concedidos pelo governo de Sergipe contribuíram para o resultado”, avalia.

André Bomfim destaca que os incentivos têm alcançado grandes, médios e pequenos produtores. “Para os grandes e médios produtores que comercializam grãos para atacadistas, o governo reduziu ICMS de 12% para 2% nas operações comerciais internas e interestaduais. Destaco o serviço importante de assistência técnica e extensão rural feito pela Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro). Outro incentivo é a distribuição de 34,8 toneladas de sementes de milho, para agricultores familiares residentes nos municípios maiores produtores do Sertão e Agreste sergipanos, este ano, adquiridas através de parcerias com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e com a empresa Di Solo, distribuidora de sementes certificadas. Importante dizerque parte do milho produzido pelo pequeno e médio agricultor vai para alimentação animal, fortalecendo ainda mais a bacia leiteira no estado e criando uma sinergia importante entre os setores agrícola e pecuário”, explica o secretário.

A redução da alíquota do ICMS do milho em grãos está trazendo resultados positivos tanto para a arrecadação do Estado quanto para agricultores, como Ana Celma, do assentamento São Jorge, em Porto da Folha. “O governo deu esse incentivo e enviou as sementes de milho crioula. Nós complementamos com uma semente que já tínhamos e plantamos 15 tarefas. Se fosse colher todo, daria de 20 a 25 sacas por tarefa, mas como vamos tirar apenas uma parte para a semente do próximo ano, a maior parte vai para ração dos animais, porque aqui trabalhamos com gado de leite. Está aqui a prova do nosso trabalho e da ajuda do governo, o resultado da colheita trazendo dois benefícios, a semente que selecionamos das melhores espigas e guardamos para a safra do próximo ano e, a ração para os animais, uma ração natural, de baixo custo e boa qualidade”, conta.

O agricultor Pedro Ferreira mora no Jacinto Ferreira, no município de Carira, e também celebra a estimativa da safra. Ele não abriu mão de utilizar a produção de milho para garantir uma reserva alimentar para seu rebanho. “Recebi as sementes doadas pelo governo e completei as minhas 20 tarefas com o plantio de milho. Aqui a gente tritura o milho com a palha e faz a silagem para alimentar nossos bichinhos”, conta. Carira está entre os municípios maiores produtores do grão, segundo o acompanhamento conjuntural da cultura do milho realizado pela Emdagro. Também se destacam os municípios de Simão Dias e Frei Paulo. Em 2019, Simão Dias produziu 186 mil toneladas, Carira 138 mil e Frei Paulo 72 mil. A soma dos três municípios representa 60% do total de grãos de milho produzidos em Sergipe na safra anual.

Fonte: Seagri

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Quais os sistemas e tecnologias presentes nas colhedoras de grãos

 

As tecnologias presentes nas colhedoras de grãos podem proporcionar ganhos em eficiência, porém entender o seu funcionamento e dominar ajustes e calibrações é fundamental.

A mecanização da colheita das lavouras evoluiu muito, no entanto ainda não atingiu seu máximo. Algumas culturas ainda requerem considerável avanço tecnológico para que se viabilize a colheita mecanizada, para tanto a colheita de grãos já avançou consideravelmente e o agricultor tem acesso a soluções de diferentes formas e níveis tecnológicos para a colheita mecanizada (Molin, 2010).

No sistema de produção de grãos vigente no Brasil, sem o preparo convencional do solo, a colheita passou a ser, na maioria dos casos, a operação mais cara, e a colhedora, a máquina mais complexa e com maior custo de aquisição. No nosso ambiente de cultivos do Centro-Sul do Brasil, em que boa parte das lavouras agrícolas permite duas safras por ano (verão e inverno ou safra e safrinha), o agricultor possui maior otimização da utilização das máquinas contribuindo para diluir o custo do capital das colhedoras.

A colhedora é uma máquina projetada e construída especialmente para colher e trilhar diferentes espécies de grãos de várias culturas agrícolas (Portella, 2000).

SISTEMAS QUE COMPÕEM AS COLHEDORAS DE GRÃOS

A colhedora de grãos deve ser analisada e entendida pelos sistemas que a compõem, que são sistema de corte (ou despiga), alimentação, trilha, separação, limpeza, transporte e armazenamento (Molin, 2010). A Figura 1 demonstra os sistemas que compõem as colhedoras de grãos.

Figura 1 - Representação dos sistemas ativos das colhedoras de grãos. Fonte: Conte, O
Figura 1 - Representação dos sistemas ativos das colhedoras de grãos. Fonte: Conte, O

SISTEMA DE CORTE OU ARRANQUIO (DESPIGA)

As plataformas de corte de colhedoras podem ser de dois tipos básicos, as rígidas e as flexíveis. As plataformas rígidas não possuem sensores embutidos, visto não manterem contato com o solo, e são empregadas na colheita de culturas de corte alto, como, por exemplo, trigo, arroz, milho e outras (Conte, 2013).

Já plataformas flexíveis são capazes de executar movimentos de subida, descida e inclinação, a fim de reproduzirem a topografia do terreno onde atuam. Estas plataformas de corte flexíveis são empregadas principalmente para colheita de leguminosas (fabaceae), as quais podem executar o corte rente ao solo e possuem sensores destinados a analisar a altura da plataforma em relação ao solo, que são posicionados nas laterais esquerda e direita (Molin, 2010). Os principais benefícios das plataformas flexíveis são que trabalham nas mais variadas irregularidades do solo e oferecem alta produtividade, mesmo em condições adversas.

No caso de plataforma segadora (trigo, arroz, soja, cevada), o componente principal é o molinete, responsável por conduzir as plantas em pé até a barra de corte, que faz o corte (ABNT, 1987).

A plataforma para colheita de milho e girassol é dividida em unidades despigadoras – uma para cada fileira de plantas, sendo variável pelo tamanho da plataforma e do espaçamento entre linhas. Os componentes principais são os rolos despigadores, responsáveis por puxar o pé de milho ou girassol para baixo, e as espigas ou capítulos, de maior diâmetro que estes, serão barradas e arrancadas por dois delimitadores, dispostos acima dos rolos (ABNT, 1987). As espigas ou capítulos são então carregadas pelas correntes transportadoras até a plataforma e daí levadas ao centro da máquina por meio de um caracol transportador.

O sistema de corte e o de alimentação se complementam, sendo o primeiro dedicado à ceifa ou arranquio e estão associados à plataforma.

Sistemas de trilha e separação e rotor axial
Sistemas de trilha e separação rotor axial.
Sistemas de trilha e separação rotor axial
Sistemas de trilha e separação rotor axial.
Sistemas de trilha e separação saca-palhas
Sistemas de trilha e separação saca-palhas.
Sistemas de trilha e separação híbrido
Sistemas de trilha e separação híbrido.

SISTEMA DE ALIMENTAÇÃO

A condução após o corte ou arranquio do produto pode ser realizada de duas maneiras, através do caracol transportador ou da esteira tipo “draper” (ABNT, 1987).

O caracol transportador leva o produto já cortado até o centro e o conduz ao elevador de alimentação ou canal alimentador.

Recentemente, o caracol vem sendo gradativamente substituído por um transportador tipo esteira draper, em função do aumento da largura da plataforma e, portanto, da distância de transporte até o centro da máquina (Conte, 2013).

A plataforma draper promove um ritmo maior na colheita, com uma alimentação mais suave e constante, a debulha torna-se mais eficiente e os custos de manutenção reduzem-se significativamente. Sem o triângulo de estrangulamento, o material colhido não debulha, não embucha, nem trava a plataforma e flui uniformemente com a massa de grãos para dentro da máquina. Tendo assim como benefícios a colheita mais rápida, eficiente, com maior rendimento e economia de combustível (Molin, 2010).

Após, o material deve ser levado ao elevador de alimentação, onde ele entrega o produto ao sistema de trilha, de fluxo radial ou axial.

SISTEMA DE TRILHA

Tem a função de destacar os grãos dos restos de cultura (caule, espigas, vagem, panículas e folhas). É composto basicamente de cilindro e côncavo (ABNT, 1987).

O cilindro de trilha é composto de barras estriadas dispostas sobre uma estrutura metálica em forma de cilindro. Tem a função de exercer ações mecânicas de impacto, compressão e atrito, por esfregamento, sobre o material que está sendo introduzido entre ele e o côncavo, causando a trilha.

O côncavo tem a forma aparente de uma calha tendendo a envolver o cilindro de trilha. É composto de barras estriadas unidas por estrutura metálica, que toma forma de uma grelha que permite a filtração de sementes, vagens e fragmentos de vagens e de hastes.

Desde muito tempo existiram muitas variações construtivas nas trilhadoras, que ultimamente convergiram para dois formatos – a trilha de fluxo radial ou tangencial e a trilha de fluxo axial (Molin, 2010).

Na trilha de fluxo radial, o produto passa uma única vez entre uma parte móvel – o rotor – e uma parte fixa, o côncavo.

Na trilha de fluxo axial, o produto gira entre o rotor e o cilindro separador, entrando em uma extremidade e saindo na outra. Como a trilha tem que ser completa, obviamente, o sistema em fluxo radial precisa ser mais abrupto, pois o produto fica exposto ao atrito e ao impacto por um contato tangencial de poucos graus. Já no sistema com fluxo axial, há mais tempo para a trilha, pois o produto fica exposto por algumas voltas.

Colhedoras com fluxo axial são mais eficientes em termos de perdas e danos aos grãos, além de permitirem maior alimentação para um mesmo porte de máquina, se comparadas com as de fluxo radial (Camolese et al, 2015; Cassia et al, 2015).

O material não filtrado através do côncavo é dirigido ao sistema de separação.

Diferentes tipos de plataformas de caracol
Diferentes tipos de plataformas de caracol.
Diferentes tipos de plataformas draper, que permitem maior flexibilização e leitura do terreno.
Diferentes tipos de plataformas draper, que permitem maior flexibilização e leitura do terreno.
Diferentes tipos de plataformas draper, que permitem maior flexibilização e leitura do terreno.
Diferentes tipos de plataformas draper, que permitem maior flexibilização e leitura do terreno.

SISTEMA DE SEPARAÇÃO

Após passar pelo sistema de trilha, o material restante é composto por um aglomerado com palha inteira e triturada, grãos debulhados e não debulhados e materiais estranhos. Isso mostra que ainda há a necessidade de se separar o grão dos demais materiais. Essa separação começa a ser feita na grade do côncavo, nas grades do cilindro e nos saca-palhas.

O sistema de separação é composto da extensão regulável do côncavo, batedor, cortinas retardadoras e saca-palhas (ABNT, 1987).

O sistema de separação desmembra o fluxo na máquina entre o grão sujo de palhiço, que segue para o sistema de limpeza, e o fluxo de palha, que segue para a traseira, até ser jogado para fora da máquina. Na trilha de fluxo axial a separação acontece entre o rotor e o cilindro separador, no mesmo corpo do sistema de trilha. No caso de fluxo radial, a trilha é totalmente independente do sistema de separação e esta é composta pelo saca-palhas (Faganello et al, 2015).

SISTEMA DE LIMPEZA

Após passar pelo sistema de trilha e separação, grãos e impurezas devem ser levados ao sistema de limpeza da máquina.

O sistema de limpeza é composto por um dispositivo denominado de bandeja de alimentação (“bandejão”), e os mecanismos de limpeza são a peneira superior, a peneira inferior e o ventilador (ABNT, 1987).

Enquanto os grãos caem por gravidade ao passar pela primeira peneira, chegarão à peneira inferior e serão atingidos por uma corrente de vento horizontal gerada pelo ventilador, que transporta o palhiço para fora da máquina. Os grãos limpos são recolhidos pelo escorregador de grãos limpos, no fundo da máquina (abaixo da peneira inferior) e levados via helicoide transportadora para o elevador de grãos limpos (Molina, 2014).

Sobre a peneira superior ficarão retidos materiais maiores que a sua abertura. Esse material é, por exemplo, parte de uma vagem de soja que contém grãos. Se ele seguir o caminho do palhiço, será jogado fora pela traseira da máquina, e isso não é desejável. Assim, todas as máquinas que possuem as peneiras têm na sua parte final um elemento denominado de extensão de retrilha da peneira superior. Nesse trecho da peneira é feita a regulagem de abertura para que esse material caia, pelo escorregador da retrilha, e seja recuperado e redirecionado para a retrilha (trilhado novamente) (Molin, 2010).

Existem basicamente dois tipos de sistema de retrilha nas máquinas de mercado. A retrilha independente é realizada na parte posterior da máquina, próximo às peneiras, e é composta por uma pequena unidade de trilha, normalmente por impacto. A outra opção é da retrilha integrada, que é realizada na trilha principal, e para isso a máquina deve dispor de um elevador dedicado, denominado de elevador da retrilha, que recebe esse material e o entrega na entrada da trilha, na parte anterior da máquina.

Monitores com as principais informações de colheita e funcionamento da colhedora estão presentes em praticamente todos os modelos
Monitores com as principais informações de colheita e funcionamento da colhedora estão presentes em praticamente todos os modelos.
Com a telemetria, é possível  acompanhar todo o processo da colheita a distância
Com a telemetria, é possível acompanhar todo o processo da colheita a distância.

SISTEMA DE TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO

Manejar a colheita significa mover os grãos trilhados, separados e limpos para o tanque graneleiro e deste tanque para um vagão ou caminhão. Todavia, a retrilha é outra fase do manejo dos grãos que deve ser também incluída (Nunes, 2016).

Entre os componentes de manejo destacam-se o elevador de grãos limpos, o elevador de carregamento do tanque graneleiro, todos os condutores helicoidais, incluindo os de material não trilhado e limpo, o tanque graneleiro e o condutor helicoidal de descarga do graneleiro (ABNT, 1987).

Depois de limpo, o condutor helicoidal de grãos limpos entrega o material ao elevador de grãos, que os leva para o condutor superior de grãos limpos ou para o condutor que carrega o tanque grane1eiro na parte superior da máquina. Este tanque armazenará os grãos temporariamente, e quando estiver cheio, o operador descarrega esses grãos para uma carreta graneleira ou caminhão por meio do tubo de descarga, que é uma grande helicoide transportadora.

Sensores de produtividade e de umidade de grãos podem ser instalados no topo do elevador-transportador de grãos para estimativa de tais parâmetros vinculado com Global Navigation Satellite System (GNSS) para espacialização e verificação da variabilidade dos mesmos. Os sensores mais comuns são de impacto e de infravermelho, sendo necessária calibração prévia. (Molin, 2010).

CONTROLADORES E GNSS EMBARCADOS

O tipo de controlador mais utilizado em máquinas agrícolas é o baseado na realimentação (“feedback”). Realimentação é o processo em que a variável a ser controlada é medida e usada a influenciar o valor da própria variável (Dias et al, 1998).

Os controladores são acoplados em um sistema de navegação por satélite, o qual possui a capacidade de oferecer posicionamento em qualquer ponto da superfície terrestre, adotando-se a nomenclatura de GNSS.

GPS diferencial (DGPS - Differential Global Positioning System) é uma evolução do GPS, que provê uma melhoria significativa na precisão da localização. Da precisão nominal de 15 metros obtida com o GPS para cerca de 10cm nas melhores implementações do DGPS (Molin, 2010).

O Real Time Kinematic (RTK) é uma técnica que se baseia na medição de fase da onda portadora dos sinais dos satélites (ao invés das informações transmitidas por estes sinais), a qual é corrigida através de dados de correção enviados por uma estação de referência, permitindo-se obter uma acurácia decerca de 0.02-0.2 metro (Molin, 2010).

TELEMETRIA E INTERNET DAS COISAS (IoT)

Telemetria é uma tecnologia que permite a medição e a comunicação de informações de interesse do operador ou desenvolvedor de sistemas.

Telemetria possui origem grega (“tele” é remoto e “metron” significa medida), entrou na agricultura há cerca de cinco anos e ganha cada dia mais aplicação na tecnologia embarcada nas máquinas agrícolas no Brasil, tanto em grandes como médios produtores de grãos, cana, entre outros.

A telemetria é o mais recente passo da agricultura de precisão (AP). Remotamente, é possível acompanhar tudo que acontece no campo. O produtor pode visualizar on-line todos os parâmetros do veículo e pode entrar em contato com o operador quase instantaneamente para fazer as correções necessárias, entre outras atividades.

Internet das coisas (em inglês Internet of Things, IoT) é um conceito que se refere à interconexão digital de objetos cotidianos com ainternet, conexão dos objetos mais do que das pessoas, sendo fundamental na confecção de plataformas digitais.

A telemetria integrada a outras ferramentas da agricultura de precisão acopladas às máquinas, como mapas de produtividade, monitor de colheita, barra de luz (sistema de navegação), piloto automático e aplicadores de taxa variável, ajuda o produtor ou gestor a fazer uma radiografia da lavoura, a fim de definir ações para melhorar o desempenho das operações, aumentando a produção e a produtividade e gerando uma redução de custos (Globo Rural, 2017). 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para cada funcionalidade, sistema ou tecnologia embarcada em colhedoras de grãos é necessário conhecimento para otimizar a funcionalidade.

Entender o funcionamento, dominar ajustes e calibrações em colhedoras de grãos proporcionam melhores resultados no trabalho de colheita, bem como a eficiência da operação.

Novas tecnologias na agricultura, e principalmente em colhedoras agrícolas de grãos, podem proporcionar ganhos em eficiência e conhecimento, diminuindo mão de obra e custos.

Classes de colhedoras de grãos

A classificação de colhedoras de grãos de acordo com a potência do motor segue de acordo com a AEM (Association of Equipment Manufacturers).

•Classe 3 < 161 HP.

•Classe 4 = 161 - 200 HP. Exemplos: MF5650, BC4550, TC5070, JD 1175;

•Classe 5 = 201 - 254 HP. Exemplos: S550, CR5080;

•Classe 6 = 255 - 294 HP. Exemplos: BC6500, AFS2799, S660, CR6080;

•Classe 7 = 295 - 354 HP. Exemplos: MF9790, BC7500, AFX7230, S670;

•Classe 8 = 355 - 474 HP. Exemplos: MF9895, BC8800, CR9080

•Classe 9 = 475 - 594 HP. Exemplos: CR9090, S690.

Luan Pierre Pott, Airton dos Santos Alonço, Henrique Eguilhor Rodrigues, Gessieli Possebon, Mayara Torres Mendonça, Rômulo Bock, Wagner Alexandre Silveira da Cruz, Ítala Thaísa Padilha Dubal e Tiago Rodrigo Francetto, UFSM

Fonte: Grupo Cultivar

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