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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Mapa registra 31 defensivos agrícolas genéricos, com quatro produtos biológicos

 

Com a publicação, 2020 soma 60 produtos de baixo impacto registrados. Esse é o maior número de registros de produtos desse perfil em um mesmo ano. - Foto: Wenderson Araujo/CNA

Ato n° 55 do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária, publicado nesta quarta-feira, 23 de setembro, no Diário Oficial da União, traz o registro de 31 defensivos agrícolas formulados. A publicação divulga quais foram os produtos formulados que foram registrados e efetivamente estarão disponíveis para uso pelos agricultores.

Todos os produtos utilizam ingredientes ativos já registrados anteriormente no país. "Os novos registros são importantes pois diminuem a concentração do mercado de defensivos e aumentam a concorrência. Isso acaba resultando em um comércio mais justo e em menores custos de produção para a agricultura brasileira", explica o coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins, Bruno Breitenbach.

Dos produtos registrados hoje, quatro deles são compostos por microrganismos como a Beauveria bassiana, o Bacillus thuringiensis, o Metarhizium anisopliae e o vírus Spodoptera frugiperda multiplenucleopolyhedrovirus que são agente biológicos de controle de pragas que atacam os cultivos brasileiros. Os produtos poderão ser utilizados em qualquer cultura em que forem encontradas as pragas para as quais esses agentes biológicos possuem recomendação de controle. Dois desses produtos poderão ser utilizados nas produções orgânicas certificadas.

Com a publicação, 2020 soma 60 produtos de baixo impacto registrados. Esse é o maior número de registros de produtos desse perfil em um mesmo ano.

Os produtos que utilizam agentes de controle biológicos são alternativas de controle para os agricultores no combate às pragas, ao mesmo tempo que contribuem para o aumento da sustentabilidade da agricultura nacional. 

Do total de produtos registrados e divulgados hoje, alguns contém mais de um ingrediente ativo. A maioria dos ingredientes ativos registrados já têm registros nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. 

Todos os produtos registrados foram analisados e aprovados pelos órgãos responsáveis pela saúde, meio ambiente e agricultura, de acordo com critérios científicos e alinhados às melhores práticas internacionais.

Fonte: Grupo Cultivar

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Bactérias da folha da laranja diminuem resíduos de agrotóxicos na natureza

 Pesquisadores descobriram que esses microorganismos podem biodegrar 93% do fipronil e 88% da bifentrina, inseticidas muito usados no Brasil

Bactérias presentes na folha da laranja eliminam vestígios de agrotóxicos.
 Foto: Pixabay

A busca por alternativas que possam diminuir o impacto dos agrotóxicos e eliminar esses compostos que acabam depositados na natureza motivou pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP) a estudarem bactérias do gênero bacillus, extraídas da superfície das folhas da laranja. Eles descobriram que esses microrganismos produzem enzimas capazes de biodegradar dois pesticidas muito utilizados na agricultura brasileira: a bifentrina e o fipronil.

Como as bactérias habitam o mesmo ambiente onde os produtos químicos são aplicados e, mesmo assim, se mantêm “vivas”, a hipótese dos cientistas era de que elas conseguissem eliminar os agrotóxicos. Para comprovar a teoria, eles realizaram inúmeros testes no IQSC.

Diversas espécies de bacillus extraídas de folhas de laranja de uma plantação em Tabatinga (SP) foram colocadas em frascos que continham pequenas amostras dos agroquímicos. Após cinco dias de experimentos, alguns resultados chamaram atenção: a bactéria bacillus amyloliquefaciens conseguiu biodegradar 93% do fipronil, enquanto a bactéria bacillus pseudomycoides eliminou 88% da bifentrina.

“Essa atividade dos microrganismos representa uma importante função ambiental de remediação desses produtos,” afirma Juliana G. Viana, autora do trabalho e doutoranda pelo IQSC.

Frascos que continham amostras dos agrotóxicos

Bactérias foram colocadas em frascos que continham amostras de pesticidas. Foto: Henrique Fontes – IQSC/USP

Juliana também testou como seria o desempenho de grupos de bactérias do gênero bacillus atuando juntas contra os agrotóxicos. Oito linhagens dos microrganismos, de diferentes espécies, foram colocadas para reagir com os produtos químicos e alcançaram uma degradação de 81% do fipronil e de 51% da bifentrina.

Segundo explica o professor André Porto, do IQSC, que orientou o trabalho, quando as bactérias estão em conjunto, pode haver competição por espaço e nutrientes, “desviando o foco” do combate aos pesticidas. Isso de certa forma justifica a taxa de biodegradação um pouco inferior ou mais lenta nos testes com bactérias trabalhando em equipe.

Juliana testou a ação de diferentes linhagens de bactérias contra o fipronil e a bifentrina. Foto: Henrique Fontes – IQSC/USP

Fipronil e bifentrina são empregados no Brasil como inseticidas e formicidas em diversos tipos de plantações, em culturas de citros, tomate, batata, milho, arroz, soja, feijão, entre outras.

Em abelhas, os dois produtos são capazes de atingir o sistema nervoso das polinizadoras e levá-las à morte, acarretando problemas não só para o ser humano, que perderia uma população de insetos responsável pela polinização de flores que produzem diversos tipos de alimentos, mas também para a economia.

Segundo estudo realizado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), em parceria com a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp), o valor do trabalho prestado pelos animais polinizadores à agricultura brasileira gira em torno de R$ 43 bilhões por ano.

Pesquisadores afirmam que as bactérias estudadas no IQSC têm potencial para serem utilizadas por agricultores na eliminação de resquícios de agrotóxicos nas plantações e para evitar a contaminação de outros seres vivos e dos recursos naturais. “Após cumprirem seu papel de proteção aos cultivos, esses produtos precisam ter um destino final, não podem ficar no meio ambiente. Para isso, estamos trabalhando em uma alternativa sustentável, utilizando a própria natureza para preservá-la e nos proteger”, finaliza Porto.

Cientistas do IQSC estudam diversas espécies de bactérias extraídas da natureza. Foto: Henrique Fontes – IQSC/USP

Fonte: Canal Rural 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Manejo da mancha marrom de alternaria em citros

 

Como manejar de modo adequado a mancha marrom de alternaria, doença que provoca severos danos e leva à depreciação dos frutos de citros.

A mancha marrom de alternaria (MMA), doença causada pelo fungo Alternaria alternata f. sp. Citri, possui grande importância econômica em todas as regiões produtoras de citros. O fungo ataca algumas cultivares de tangerina e seus híbridos (Fr:Fr.), incluindo Ponkan (Citrus reticulata) e Murcott (C. reticulata x C. sinesis), mais plantadas no mundo. O fungo penetra, principalmente, em folhas e frutos. A doença causa desfolha, seca dos ramos, queda prematura e depreciação dos frutos. Sua evolução provoca necrose dos tecidos infectados, em decorrência de uma substância tóxica liberada pelo agente causal, chamada ACT.

Os sintomas são facilmente visualizados em todos os órgãos afetados: folhas, frutos e galhos de plantas. Inicialmente, aparecem pequenas lesões circulares e ovais, de coloração marrom ou preta. As folhas mais novas são mais sensíveis à ação do fungo. Em folhas maduras as lesões são quase sempre rodeadas por um halo amarelo, próximas às nervuras em ambos os lados. Mudanças climáticas, como altas temperaturas e umidade relativa do ar, podem favorecer a evolução da doença, provocando a queda de folhas e murcha de galhos novos, e seca de ponteiros em brotações novas. Em frutos maduros, as lesões têm aparência corticosa e saliente, e dependendo da severidade do ataque, os frutos podem apresentar sabor podre, perdendo o valor comercial.

A transmissão da doença ocorre em locais onde há período chuvoso coincidente com altas temperaturas no Verão. Porém, a transmissão também pode se dar em condições de clima seco, mas com ocorrência de orvalho pela manhã e presença de ventos.

O controle da mancha marrom de alternaria requer a adoção de uma ou mais táticas empregadas no Manejo Integrado de Doenças. Dentre as práticas culturais estão utilização de mudas sadias e certificadas; uso de cultivares resistentes e/ou tolerantes, utilizadas de acordo com a adaptação à região de cultivo (grupo Satsuma, por exemplo). Recomenda-se evitar plantios adensados, optando-se por espaçamentos maiores, para facilitar a circulação do ar e evitar o acúmulo de umidade, pois quando o espaçamento entre plantas é menor, cria-se um ambiente mais úmido entre as copas, o que, associado a altas temperaturas, favorece o desenvolvimento da doença. Cuidados com a adubação são requeridos, principalmente a nitrogenada, que induz um grande crescimento vegetativo e as brotações novas mais sensíveis ao ataque do fungo, o que favorecerá sua multiplicação, dificultado o controle da doença. Esta prática deve ser evitada, principalmente em associação com podas.

Deve-se adotar o uso de irrigação localizada, por proporcionar alta umidade de forma concentrada e direta, em um pequeno volume de solo, não atingindo a copa e, consequentemente, não proporcionando condições favoráveis à multiplicação e à disseminação do fungo. Também, faz-se necessário evitar regiões de baixada, pois tendem a acumular umidade por períodos mais longos, proporcionando condições para a multiplicação do fungo. Essas áreas devem ser reservadas para cultivares resistentes ao fungo.

Em pomares já instalados recomenda-se a poda para retirada de ramos secos e mortos, na redução e na eliminação de possíveis focos do fungo, além de permitir a entrada de sol na copa das árvores, promovendo arejamento e redução da umidade. Em conjunto, é recomendada ainda a aplicação de produtos com ação fungicida protetora, como produtos à base de cobre ou enxofre; e eliminação de restos culturais, como folhas e galhos infestados que caem no solo, na maioria das vezes como consequência da doença.

O controle químico da mancha marrom de alternaria é indicado em épocas críticas favoráveis à doença, como no início das brotações, no florescimento e na frutificação. Recomenda-se o uso de produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mediante receituário agronômico e, preferencialmente, com supervisão de um profissional qualificado.

Em certos casos, devem ser realizadas muitas aplicações, em decorrência da dificuldade no controle da doença, o que, além de elevar o custo de produção, pode trazer riscos à saúde humana e ao ambiente. Além de aumentar substancialmente a possibilidade de surgir variações dos fungos resistentes aos produtos aplicados repetidamente na lavoura. Produtos à base de cobre podem ser utilizados tanto em plantios convencionais, quanto em agricultura orgânica, diante da menor toxidez ao ambiente e ao homem. Porém, aplicações repetidas com alta concentração de cobre podem causar fitotoxidez à planta, provocando sintoma característico de “queimaduras em folhas”, sendo mais comum em épocas mais quentes do ano.

Para maior eficiência no controle da doença pelo controle químico recomenda-se programar previamente as aplicações de fungicidas, para fazer a alternância de princípios ativos, utilizando-se, sempre que possível, fungicidas com mais de um modo de ação, quando sistêmicos, alternados com fungicidas protetores, evitando-se desta forma o aparecimento de resistência do fungo. Devido às chuvas e ao aumento do tamanho dos frutos, aplicações adicionais podem ser necessárias.

Atualmente em cultivares suscetíveis, o controle é baseado na aplicação de fungicidas preventivos e sistêmicos. Durante o período crítico de infecção, as pulverizações devem ser realizadas para proteger órgãos suscetíveis. Dependendo do clima e da suscetibilidade da cultivar, recomenda-se entre quatro e dez pulverizadores de fungicidas por ano para produzir frutos de qualidade para o mercado fresco. Nas cultivares suscetíveis, as aplicações foliares com fungicidas de cobre devem ser realizadas a cada dez-15 dias em períodos de alta suscetibilidade. Apesar deste grande número de pulverizações, o controle da doença nem sempre é satisfatório.

Os fungicidas sistêmicos triazóis, estrobilurinas e o protetor iprodione já possuem casos registrados de A. alternata resistentes em plantas de citros e seus híbridos, em vários países, reforçando a importância de manejar a doença utilizando-se práticas culturais.

No Brasil, populações do fungo resistentes às estrobilurinas, um dos grupos mais eficazes e o mais utilizado no país para o controle da doença, já foram identificadas em pomares de tangerina no estado de São Paulo. A descoberta, por pesquisadores do Fundecitrus, Instituto Biológico (IB) e Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz” (Esalq/USP), indica perda da eficiência das estrobilurinas e a necessidade de mudanças no controle da doença.

Pesquisadores destas instituições recomendam o uso de fungicidas à base de cobre e triazóis. Fungicidas à base de cobre devem ser usados preventivamente e com intervalos mais curtos, com a redução do número de aplicações com estrobilurinas e a rotação, alternância ou misturas de grupos químicos de fungicidas no controle das diferentes doenças causadas por fungos ao longo da safra.

Umas das principais estratégias para o controle da doença tem sido a busca por cultivares resistentes à doença. Uma opção é a cultivar Fremont (C. clementina x C. reticulata), que não apresenta sintomas quando inoculada com o patógeno. Com exceção de limão mexicano (Citrus aurantifolia), as cultivares de limão e lima são consideradas tolerantes ao patógeno.

Também métodos de controle alternativo vêm sendo estudados por diversas instituições no país, e demonstraram que o uso de extratos vegetais, como os extratos de angico branco (Anadenanthera colubrina), goiaba (Psidium guajava) e melão-de-são-Caetano (Momordica charantia) e o uso de agentes biológicos como Bacillus subtilis (isolados de folhas e flores de citros do estado de São Paulo) foram eficientes no controle da mancha marrom em frutos de tangerina. Estes trabalhos demonstram a possibilidade de se implementar estes métodos de controle no manejo da mancha marrom de alternaria, contribuindo para a diminuição do uso de produtos químicos, bem como para prevenir o surgimento de populações resistentes do fungo.

Folhas de citros são um dos principais alvos da mancha marrom de alternaria
Folhas de citros são um dos principais alvos da mancha marrom de alternaria

Citrus no Brasil

A citricultura é uma das mais importantes atividades agrícolas do Brasil. Além da laranja, que é o principal produto desta cadeia, a atividade ainda contempla a tangerina, a lima ácida e o limão. A área plantada chega a aproximadamente 2,9 milhões de hectares, produzindo aproximadamente 14,9 milhões de toneladas, com valor bruto da produção alcançado de R$ 14,8 bilhões em 2019.

O Brasil é o maior produtor mundial, gerando empregos diretos e indiretos na zona rural, sendo responsável por mais de 80% das exportações mundiais de suco de laranja e mais de 30% de toda a produção mundial da fruta. Estima-se que a safra 2020/21 seja 25,6% (caixas produzidas) menor que a anterior, principalmente por conta da redução significativa do número de frutos por árvore, devido ao aumento do consumo das reservas nutricionais e ao clima. Altas temperaturas entre os meses de setembro e outubro de 2019 prejudicaram a formação dos frutos recém-formados. Porém, além das condições climáticas, as doenças causadas por micro-organismos ganham destaque na diminuição da produção de citros.

Mônica Danielly de Mello Oliveira, Investigadora visitante do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, Universidade de Évora

Fonte: Grupo Cultivar 

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