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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Inovações tecnológicas e tendências que devem movimentar o agronegócio em 2022

 Sabemos que o agronegócio é um dos pilares da economia brasileira. No primeiro semestre de 2021, o PIB do setor teve um crescimento de 9,81% em relação ao mesmo período de 2020, um montante equivalente a R$ 223 bilhões - segundo apontam os cálculos realizados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Quando analisamos no detalhe, observamos ainda que a agricultura despontou em relação a pecuária, principalmente devido ao alto custo dos insumos requisitados por esse ramo.

Em um cenário de desafios, altos custos e instabilidades climáticas que exercem impactos relevantes para o setor, a tecnologia mais uma vez tem desempenhado papel importante - e até fundamental - para incrementar a produção. Por isso, abaixo destaco quatro temas que devem estar no radar do setor do agronegócio em 2022:

Agricultura de precisão

No mercado já há uma série de soluções robustas, que atendem desde o planejamento da distribuição dos insumos até a preparação da propriedade para recebê-los, o que é conhecido como agricultura de precisão.

Essa metodologia de produção não é novidade, ela se fundamenta no uso de tecnologias que visam facilitar e modernizar as propriedades rurais e possui uma gestão baseada na coleta de dados, reunindo e processando uma série de informações e características da área produtiva. Num segundo momento, há ainda o planejamento do gerenciamento, em que são fornecidas estratégias e diretrizes para melhorar a gestão dos insumos, com base em padrões e requisitos estabelecidos pelo próprio produtor - aqui podem ser aplicados diferentes sistemas e soluções, incluindo Inteligência Artificial para a análise dos dados. E, por fim, a agricultura de precisão ainda pode prever a aplicação dos insumos de forma automática e com maior rigor técnico. Tudo isso pode ser um verdadeiro impulsionador da Agricultura 4.0 no Brasil.

Tecnologia 5G

A chegada da quinta geração de rede móvel certamente causará uma das maiores transformações no campo, permitindo uma maior transmissão de dados, de forma rápida e com maior alcance. Ainda devido ao custo operacional ser mais baixo que o da tecnologia 4G, o 5G possibilita a implementação de torres de transmissão em áreas mais afastadas, proporcionando maior conectividade às propriedades rurais. Para termos a dimensão do impacto que essa tecnologia trará para o agronegócio, o Atlas do Espaço Rural Brasileiro, publicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que dos 5,07 milhões de propriedades rurais, 3,64 milhões ainda operam off-line.

Ainda que a implementação do 5G ainda esteja em processo de acontecer, tendo em vista os leilões de espaço e outras condições necessárias, estudos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estimam que com a ampliação de 25% da conexão no campo, haverá um aumento de 6,3% no valor bruto da produção (VBP). Isso será possível porque o 5G melhora e impulsiona a adoção de dispositivos de IoT (Internet das Coisas), viabilizando a utilização de sensores e equipamentos para monitorar as safras e os animais; assim como ampliar o uso de drones, conectados à sistemas e softwares de processamento; e outras tecnologias complementares.

Marketplace no agro

Outra tendência que deve marcar o próximo ano é o uso do marketplace no agronegócio. Essas plataformas de venda digital se consolidaram bastante nos últimos meses, principalmente durante a pandemia, facilitando a comercialização de diversos produtos online, de forma rápida e dinâmica. Para o agronegócio, não é diferente.

Os marketplaces agrícolas conectam produtores rurais a distribuidores e compradores de produtos específicos, potencializando as vendas e o escoamento da produção rural. Esse tipo de venda digital também permite o crescimento de alcance dos pequenos produtores rurais, viabilizando a inserção deles em um grande cenário de maior exposição, maiores negociações e com baixo custo de operacionalização.

Agenda ESG

Pauta importante em diversos setores da economia, a agenda ESG ganha destaque no agronegócio. Dentre os vieses da sustentabilidade, a preocupação com os gases do efeito estufa ganha um novo patamar com o crédito de carbono. Os créditos de carbono têm servido como moeda para os negócios, potencializando um mercado multimilionário àqueles players que ainda não conseguiram diminuir seu impacto na emissão de gases.

O mercado de crédito de carbono ainda precisa ter regras mais claras, mas isso deve ser resolvido em breve, pois já há países o abordando como uma "nova commodity" global. Segundo um levantamento da Bayer, a área ocupada pela agropecuária no Brasil é responsável por 500 milhões de toneladas de carbono equivalente (tCO2eq) que, convertidos em dinheiro, correspondem a US﹩5 bilhões. Nesse cenário, pesquisas e aplicação de tecnologias servem de base para a substituição e o aprimoramento de técnicas de cultivo e agropecuária, a fim de reduzir o uso de combustíveis e biomassas não-renováveis por biomassas renováveis.

As previsões e projeções para o agronegócio no próximo ano são várias, mas o fato é que ele deve se manter como uma grande força motriz da economia nacional. Tendo isso em mente, vale ficar ligado em estudos, tendências e inovações que estão sendo inclusive incentivados por iniciativas públicas e privadas, assim como os investimentos feitos em tecnologias e soluções. Os recursos e a tecnologia estão aí para apoiar o avanço do Brasil na jornada da Agricultura 4.0.

Fonte: Grupo Cultivar 

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Quais as vantagens dos diferentes tipos de amostragens de solo

 


Áreas agrícolas apresentam atributos do solo distribuídos de forma heterogênea ao longo das áreas, ou seja, podendo variar muito em distâncias consideradas irrisórias para a agricultura convencional. Assim, uma abordagem localizada é necessária para que se conheça melhor a realidade do solo nas lavouras. Nesse contexto, a Agricultura de Precisão (AP) auxilia o agricultor para que tenha informações cada vez mais precisas sobre a sua área, otimizando recursos e potencializando resultados.

Dentre as técnicas e ferramentas utilizadas no âmbito da AP, a amostragem de solo em grade para fins de mapeamento da fertilidade e prescrição de fertilizantes e corretivos em doses variadas é uma das abordagens mais utilizadas. O primeiro passo para isso é a delimitação da área da lavoura, com auxílio de um receptor GNSS e/ou visualização e demarcação em software de SIG. Com esse contorno será criada uma grade (malha) virtual para planejamento da coleta de dados no campo. A amostragem em campo é realizada de maneira georreferenciada, contendo amostras compostas de subamostras.

O procedimento de coleta de solo é composto por um equipamento amostrador (conceitualmente dividido em uma fonte de potência para acionamento e o elemento sacador da amostra), material para identificação (canetas, etiquetas, código de barra, por exemplo) e para armazenamento das amostras (sacos plásticos, caixas de papelão), veículo para transporte (não é obrigatório) e um receptor GNSS. O solo deve ser amostrado seguindo profundidade e local de coleta indicados pelos manuais de recomendação de fertilizantes para dada cultura e região e, então, as amostras são encaminhadas para laboratório de análise, sendo seus resultados tabulados e analisados para permitirem a obtenção dos mapas de fertilidade do solo. Com base na interpretação desses mapas, utilizam-se adaptações das tabelas de recomendação de fertilizantes para obtenção dos mapas de prescrição de fertilizantes em doses variadas.

No Brasil, a densidade amostral mais comumente utilizada está entre três e cinco amostras por hectare, conforme levantamento realizado por Molin (2017). Como o objetivo da aplicação de fertilizantes em doses variadas é aplicar a dose correta em cada local da lavoura, essa densidade amostral pode não ser adequada em diversas situações, o que acarreta a caracterização da variabilidade de um atributo do solo de forma não satisfatória (Figura 1), o que prejudica o resultado da aplicação de fertilizantes em doses variadas. Assim, a estratégia de amostragem deve ser planejada levando em conta as características da área de estudo, os recursos disponíveis e os objetivos do agricultor.

Figura 1 - Mapas do teor de potássio disponível no solo gerados a partir de diferentes densidades amostrais. Note como a diminuição do número de amostras acarreta em uma identificação limita das manchas ao longo da área
Figura 1 - Mapas do teor de potássio disponível no solo gerados a partir de diferentes densidades amostrais. Note como a diminuição do número de amostras acarreta em uma identificação limita das manchas ao longo da área

Não existe apenas uma maneira de realizar a amostragem de solo de forma espacializada, sendo necessário avaliar qual a melhor abordagem caso a caso. Assim, deve-se atentar para a integração da disposição espacial das amostras, forma de coleta de subamostras, densidade amostral e utilização de variáveis auxiliares, ponderando os ganhos em qualidade do mapa com o custo associado a esse procedimento. De forma geral, a coleta de solo para fins de criação de mapas de fertilidade pode ser feita a partir de amostragem em grade por pontos ou por células.

Independentemente do método adotado, o primeiro procedimento é a criação de uma malha virtual que é sobreposta à área da lavoura, conforme a densidade amostral almejada para a dada situação, a qual costuma variar de 1ha a 5ha. A diferença dos métodos de amostragem por ponto e por célula está na forma de coleta dentro da quadrícula e no posterior tratamento destes dados para a criação dos mapas de distribuição do atributo de interesse.

Coleta de amostras de solo
Coleta de amostras de solo

AMOSTRAGEM EM GRADE POR PONTO

Na amostragem em grade por pontos é alocado um ponto no centro de cada quadrícula, sendo as subamostras coletadas em um determinado raio ao redor deste ponto central. Na Figura 2 é possível visualizar uma área em um software SIG com grade de amostragem (quadrículas) e pontos a serem coletados em campo. A quantidade de subamostras pode mudar de acordo com a variação em curtas distâncias da propriedade do solo que se tem mais interesse, o volume de material necessário para compor uma amostra e o rendimento operacional que se deseja, mas ficando entre três e dez subamostras.

Figura 2 - Representação de uma amostragem em grade por ponto, onde o que se quer é representar o ponto central de cada quadrícula
Figura 2 - Representação de uma amostragem em grade por ponto, onde o que se quer é representar o ponto central de cada quadrícula

Já o raio de coleta costuma ser equivalente ao erro do sistema GNSS utilizado, ou seja, em torno de 5m, mas também pode ser função do raio de giro do veículo amostrador. Porém, existe a possibilidade de se aumentar esse raio na tentativa de reduzir possíveis variações locais. Contudo, alerta-se que quanto maior esse raio, mais se suaviza a variabilidade do atributo, perdendo a capacidade de identificar possíveis regiões com valores altos e baixos.

Posteriormente, os resultados das análises de solo são vinculados às coordenadas dos pontos centrais das quadrículas. Esses dados são inseridos em um software de SIG para uma primeira análise exploratória dos dados, verificando a existência de possíveis valores anômalos que poderiam comprometer o mapeamento, os quais podem ser fruto principalmente de problemas durante a amostragem. Feito isso, os dados são interpolados, de forma a estimar valores das propriedades do solo onde não houve a coleta de amostras. Essa interpolação pode seguir modelos matemáticos (como o conhecido Inverso do Quadrado da Distância) ou de geoestatística, isto é, krigagem. Independentemente do método de interpolação utilizado, alertamos que a qualidade da amostragem realizada é fator primordial na qualidade do mapa obtido, impactando significativamente em quão próximo este mapa interpolado estará da realidade de campo, sendo fator decisivo para o sucesso da aplicação de corretivos e fertilizantes em doses variadas.

Conhecendo a distribuição dos atributos do solo na área, são elaborados mapas com as prescrições do insumo, possibilitando as devidas intervenções agronômicas. A Figura 3 representa um mapa de necessidade de calagem utilizado para correção de solo, onde zonas em verde têm menor necessidade de calcário e em vermelho, maior necessidade de aplicação do insumo. As doses prescritas nesse mapa serão então reproduzidas em campo por uma máquina aplicadora de fertilizantes equipada com controlador para aplicação em doses variadas.

Figura 3 - Mapa de prescrição de doses de calcário construído a partir da interpolação de dados
Figura 3 - Mapa de prescrição de doses de calcário construído a partir da interpolação de dados

AMOSTRAGEM EM GRADE POR CÉLULA

Ao contrário da amostragem por pontos, na amostragem por célula as subamostras são coletadas ao longo de toda a quadrícula, geralmente em zigue-zague (Figura 4). Nesse caso, o objetivo da amostragem é representar muito bem toda a área da quadrícula, enquanto na amostragem por ponto é caracterizar bem o solo em volta das coordenadas do ponto central. A quantidade de subamostras dentro de cada célula costuma estar entre oito e 20, sendo que quanto mais subamostras, maior a confiabilidade no valor médio que representará a quadrícula. Além disso, quanto maior a área da quadrícula, maior deve ser o número de subamostras.

Figura 4 - Representação de uma amostragem em grade por célula, mostrando como as subamostras podem ser coletadas ao longo de toda a quadrícula
Figura 4 - Representação de uma amostragem em grade por célula, mostrando como as subamostras podem ser coletadas ao longo de toda a quadrícula

Seguindo essa metodologia de coleta de amostras, o resultado de cada amostra composta de solo representará toda a área da quadrícula. Portanto, diferentemente da amostragem por ponto, a amostragem por célula não utiliza a interpolação para a formação dos mapas de atributo do solo. Como neste tipo de amostragem as doses variam de acordo com mudança de célula (Figura 5), sendo a mesma ao longo de toda a sua extensão. Assim, a amostragem em grade por célula é uma alternativa para o agricultor que possui menor capacidade de investimento, pois a amostragem por pontos requer maior número de pontos para que a interpolação seja mais precisa, sendo que quando a densidade amostral é muito reduzida, os erros da interpolação se elevam e prejudicam a qualidade do mapa final.

Figura 5 - Mapa de prescrição de doses de calcário construído a partir de uma amostragem em grade por célula
Figura 5 - Mapa de prescrição de doses de calcário construído a partir de uma amostragem em grade por célula

AMOSTRAGEM INTELIGENTE

Uma boa prática que pode ser adotada para melhorar a eficiência das amostragens em grade é que no primeiro levantamento feito na área seja utilizada densidade amostral elevada, algo como uma amostra a cada hectare. Isso possibilitaria maior detalhamento do comportamento espacial das propriedades do solo ao longo da lavoura. Com base nesse primeiro ano de amostragem, nas safras subsequentes seria possível ajustar a densidade amostral de acordo com as necessidades identificadas pela modelagem da dependência espacial feita pela geoestatística, podendo resultar em menor ou maior densidade amostral.

O alcance, destacado no semivariograma da Figura 6, representa a distância em que considera-se que não há mais dependência espacial (correlação) entre dois pontos distintos, ou seja, coletas com espaçamento entre amostras maiores que o alcance não são praticáveis para a realização de uma análise espacial do atributo do solo. Para tal, as amostras devem ser coletadas com espaçamento igual ou inferior à metade do valor do alcance; logo, no caso da Figura 6, o espaçamento máximo seria de 200m. Alertamos que para essa finalidade, deve-se obrigatoriamente realizar a amostragem por ponto, uma vez que na amostragem por célula não é possível realizar a análise geoestatística, visto que está se amostrando toda a área e não apenas representando o ponto.

Figura 6 - Exemplo de um semivariograma, onde no eixo x está a distância entre pares de amostras e no eixo y a diferença (semivariância) entre elas. Destaque para o alcance de 400m nesse caso
Figura 6 - Exemplo de um semivariograma, onde no eixo x está a distância entre pares de amostras e no eixo y a diferença (semivariância) entre elas. Destaque para o alcance de 400m nesse caso

A questão central dessa estratégia de otimização é que quanto maior a variabilidade da propriedade do solo em análise, maior deve ser a densidade amostral para conseguir mapeá-la de forma adequada. Neste sentido, o uso de variáveis auxiliares destaca-se como uma alternativa para contribuir na otimização da amostragem do solo. Assim, partindo do pressuposto que variáveis obtidas por algum tipo de mapeamento alternativo podem apresentar distribuição espacial correlacionada com a propriedade do solo que se quer mapear, o uso dessa variável auxiliar permite que se infira sobre o comportamento espacial do atributo de estudo antes da realização da amostragem de solo. Isso pode ajudar na definição do espaçamento entre amostras.

A condutividade elétrica aparente do solo (CEa) se destaca como uma das variáveis auxiliares mais interessantes para a otimização do planejamento amostral. A CEa pode se correlacionar com diversos atributos físicos e químicos do solo, como sua umidade, capacidade de troca de cátions, textura, conteúdo de matéria orgânica, salinidade, dentre outros, e, com isso, permite que se tenha uma boa noção de como o solo varia ao longo da lavoura. A CEa é também muito vantajosa operacionalmente, pois sua coleta de dados é rápida, simples e barata, além de ser estável ao longo do tempo, sendo necessário apenas um mapeamento para entender o comportamento do solo (Figura 7).

Figura 7 – Mapa de condutividade elétrica aparente do solo e um exemplo de sensor de condutividade elétrica (EM38 – Geonics) sendo conduzido por um quadriciclo
Figura 7 – Mapa de condutividade elétrica aparente do solo e um exemplo de sensor de condutividade elétrica (EM38 – Geonics) sendo conduzido por um quadriciclo

Outras possíveis variáveis auxiliares para tal finalidade seriam: imagens de sensoriamento remoto e índices de vegetação, como por exemplo o NDVI, as quais podem mostrar alguma relação do vigor da cultura com as propriedades do solo; modelos digitais de elevação, fornecendo informações topográficas e que podem ter relação com as propriedades do solo; mapas de produtividade, dentre outros. A partir desses dados é possível identificar algumas manchas na lavoura que precisam ser melhor interpretadas. Assim, parte das amostras pode ser direcionada para essas manchas, aumentando o entendimento dos possíveis causadores da variabilidade ao longo das lavouras e, assim, melhorando a eficiência das decisões agronômicas. Ainda, tais manchas podem ser demarcadas, de forma a serem amostradas de maneira semelhante à amostragem por célula, ou seja, subamostras coletadas ao longo de toda a área dessa mancha; essa forma de amostragem tem sido chamada comercialmente de amostragem por zonas.

O uso de quadricíclos equipados com aparelhos de coleta de amostras facilita o mapeamento de grandes áreas
O uso de quadricíclos equipados com aparelhos de coleta de amostras facilita o mapeamento de grandes áreas

O alerta principal sobre essas abordagens de amostragem inteligente é que as variáveis auxiliares adotadas precisam ter relação espacial com as propriedades do solo que se quer mapear; caso contrário, não terão utilidade. Assim, o adequado conhecimento técnico do usuário continua sendo indispensável para garantir o retorno de tal prática. 

Gabriel Basso Pereira, Henrique Leal Varanda, Agda Loureiro Gonçalves Oliveira, Lucas Rios do Amaral, FEA/Unicamp

Fonte: Grupo Cultivar 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Manejo da mancha marrom de alternaria em citros

 

Como manejar de modo adequado a mancha marrom de alternaria, doença que provoca severos danos e leva à depreciação dos frutos de citros.

A mancha marrom de alternaria (MMA), doença causada pelo fungo Alternaria alternata f. sp. Citri, possui grande importância econômica em todas as regiões produtoras de citros. O fungo ataca algumas cultivares de tangerina e seus híbridos (Fr:Fr.), incluindo Ponkan (Citrus reticulata) e Murcott (C. reticulata x C. sinesis), mais plantadas no mundo. O fungo penetra, principalmente, em folhas e frutos. A doença causa desfolha, seca dos ramos, queda prematura e depreciação dos frutos. Sua evolução provoca necrose dos tecidos infectados, em decorrência de uma substância tóxica liberada pelo agente causal, chamada ACT.

Os sintomas são facilmente visualizados em todos os órgãos afetados: folhas, frutos e galhos de plantas. Inicialmente, aparecem pequenas lesões circulares e ovais, de coloração marrom ou preta. As folhas mais novas são mais sensíveis à ação do fungo. Em folhas maduras as lesões são quase sempre rodeadas por um halo amarelo, próximas às nervuras em ambos os lados. Mudanças climáticas, como altas temperaturas e umidade relativa do ar, podem favorecer a evolução da doença, provocando a queda de folhas e murcha de galhos novos, e seca de ponteiros em brotações novas. Em frutos maduros, as lesões têm aparência corticosa e saliente, e dependendo da severidade do ataque, os frutos podem apresentar sabor podre, perdendo o valor comercial.

A transmissão da doença ocorre em locais onde há período chuvoso coincidente com altas temperaturas no Verão. Porém, a transmissão também pode se dar em condições de clima seco, mas com ocorrência de orvalho pela manhã e presença de ventos.

O controle da mancha marrom de alternaria requer a adoção de uma ou mais táticas empregadas no Manejo Integrado de Doenças. Dentre as práticas culturais estão utilização de mudas sadias e certificadas; uso de cultivares resistentes e/ou tolerantes, utilizadas de acordo com a adaptação à região de cultivo (grupo Satsuma, por exemplo). Recomenda-se evitar plantios adensados, optando-se por espaçamentos maiores, para facilitar a circulação do ar e evitar o acúmulo de umidade, pois quando o espaçamento entre plantas é menor, cria-se um ambiente mais úmido entre as copas, o que, associado a altas temperaturas, favorece o desenvolvimento da doença. Cuidados com a adubação são requeridos, principalmente a nitrogenada, que induz um grande crescimento vegetativo e as brotações novas mais sensíveis ao ataque do fungo, o que favorecerá sua multiplicação, dificultado o controle da doença. Esta prática deve ser evitada, principalmente em associação com podas.

Deve-se adotar o uso de irrigação localizada, por proporcionar alta umidade de forma concentrada e direta, em um pequeno volume de solo, não atingindo a copa e, consequentemente, não proporcionando condições favoráveis à multiplicação e à disseminação do fungo. Também, faz-se necessário evitar regiões de baixada, pois tendem a acumular umidade por períodos mais longos, proporcionando condições para a multiplicação do fungo. Essas áreas devem ser reservadas para cultivares resistentes ao fungo.

Em pomares já instalados recomenda-se a poda para retirada de ramos secos e mortos, na redução e na eliminação de possíveis focos do fungo, além de permitir a entrada de sol na copa das árvores, promovendo arejamento e redução da umidade. Em conjunto, é recomendada ainda a aplicação de produtos com ação fungicida protetora, como produtos à base de cobre ou enxofre; e eliminação de restos culturais, como folhas e galhos infestados que caem no solo, na maioria das vezes como consequência da doença.

O controle químico da mancha marrom de alternaria é indicado em épocas críticas favoráveis à doença, como no início das brotações, no florescimento e na frutificação. Recomenda-se o uso de produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mediante receituário agronômico e, preferencialmente, com supervisão de um profissional qualificado.

Em certos casos, devem ser realizadas muitas aplicações, em decorrência da dificuldade no controle da doença, o que, além de elevar o custo de produção, pode trazer riscos à saúde humana e ao ambiente. Além de aumentar substancialmente a possibilidade de surgir variações dos fungos resistentes aos produtos aplicados repetidamente na lavoura. Produtos à base de cobre podem ser utilizados tanto em plantios convencionais, quanto em agricultura orgânica, diante da menor toxidez ao ambiente e ao homem. Porém, aplicações repetidas com alta concentração de cobre podem causar fitotoxidez à planta, provocando sintoma característico de “queimaduras em folhas”, sendo mais comum em épocas mais quentes do ano.

Para maior eficiência no controle da doença pelo controle químico recomenda-se programar previamente as aplicações de fungicidas, para fazer a alternância de princípios ativos, utilizando-se, sempre que possível, fungicidas com mais de um modo de ação, quando sistêmicos, alternados com fungicidas protetores, evitando-se desta forma o aparecimento de resistência do fungo. Devido às chuvas e ao aumento do tamanho dos frutos, aplicações adicionais podem ser necessárias.

Atualmente em cultivares suscetíveis, o controle é baseado na aplicação de fungicidas preventivos e sistêmicos. Durante o período crítico de infecção, as pulverizações devem ser realizadas para proteger órgãos suscetíveis. Dependendo do clima e da suscetibilidade da cultivar, recomenda-se entre quatro e dez pulverizadores de fungicidas por ano para produzir frutos de qualidade para o mercado fresco. Nas cultivares suscetíveis, as aplicações foliares com fungicidas de cobre devem ser realizadas a cada dez-15 dias em períodos de alta suscetibilidade. Apesar deste grande número de pulverizações, o controle da doença nem sempre é satisfatório.

Os fungicidas sistêmicos triazóis, estrobilurinas e o protetor iprodione já possuem casos registrados de A. alternata resistentes em plantas de citros e seus híbridos, em vários países, reforçando a importância de manejar a doença utilizando-se práticas culturais.

No Brasil, populações do fungo resistentes às estrobilurinas, um dos grupos mais eficazes e o mais utilizado no país para o controle da doença, já foram identificadas em pomares de tangerina no estado de São Paulo. A descoberta, por pesquisadores do Fundecitrus, Instituto Biológico (IB) e Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz” (Esalq/USP), indica perda da eficiência das estrobilurinas e a necessidade de mudanças no controle da doença.

Pesquisadores destas instituições recomendam o uso de fungicidas à base de cobre e triazóis. Fungicidas à base de cobre devem ser usados preventivamente e com intervalos mais curtos, com a redução do número de aplicações com estrobilurinas e a rotação, alternância ou misturas de grupos químicos de fungicidas no controle das diferentes doenças causadas por fungos ao longo da safra.

Umas das principais estratégias para o controle da doença tem sido a busca por cultivares resistentes à doença. Uma opção é a cultivar Fremont (C. clementina x C. reticulata), que não apresenta sintomas quando inoculada com o patógeno. Com exceção de limão mexicano (Citrus aurantifolia), as cultivares de limão e lima são consideradas tolerantes ao patógeno.

Também métodos de controle alternativo vêm sendo estudados por diversas instituições no país, e demonstraram que o uso de extratos vegetais, como os extratos de angico branco (Anadenanthera colubrina), goiaba (Psidium guajava) e melão-de-são-Caetano (Momordica charantia) e o uso de agentes biológicos como Bacillus subtilis (isolados de folhas e flores de citros do estado de São Paulo) foram eficientes no controle da mancha marrom em frutos de tangerina. Estes trabalhos demonstram a possibilidade de se implementar estes métodos de controle no manejo da mancha marrom de alternaria, contribuindo para a diminuição do uso de produtos químicos, bem como para prevenir o surgimento de populações resistentes do fungo.

Folhas de citros são um dos principais alvos da mancha marrom de alternaria
Folhas de citros são um dos principais alvos da mancha marrom de alternaria

Citrus no Brasil

A citricultura é uma das mais importantes atividades agrícolas do Brasil. Além da laranja, que é o principal produto desta cadeia, a atividade ainda contempla a tangerina, a lima ácida e o limão. A área plantada chega a aproximadamente 2,9 milhões de hectares, produzindo aproximadamente 14,9 milhões de toneladas, com valor bruto da produção alcançado de R$ 14,8 bilhões em 2019.

O Brasil é o maior produtor mundial, gerando empregos diretos e indiretos na zona rural, sendo responsável por mais de 80% das exportações mundiais de suco de laranja e mais de 30% de toda a produção mundial da fruta. Estima-se que a safra 2020/21 seja 25,6% (caixas produzidas) menor que a anterior, principalmente por conta da redução significativa do número de frutos por árvore, devido ao aumento do consumo das reservas nutricionais e ao clima. Altas temperaturas entre os meses de setembro e outubro de 2019 prejudicaram a formação dos frutos recém-formados. Porém, além das condições climáticas, as doenças causadas por micro-organismos ganham destaque na diminuição da produção de citros.

Mônica Danielly de Mello Oliveira, Investigadora visitante do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, Universidade de Évora

Fonte: Grupo Cultivar 

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Fertiláqua esclarece as diferenças entre manejo fisiológico e manejo nutricional

 

Para atingir o máximo potencial, a aplicação de produtos bioestimulantes para melhorar o funcionamento da planta se faz necessária.

A Fertiláqua realizou durante os últimos meses transmissões online com representantes do seu corpo técnico para debater principais pontos da agricultura e auxiliar os produtores com dicas e orientações que, até então, eram dadas no campo. Uma das Lives “DM em Campo” trouxe como tema principal: Manejo fisiológico x Manejo nutricional. Participaram do encontro os especialistas Fernando Bacilieri e Elton Hizuka e a mediação foi feita pelo gerente de desenvolvimento da Fertiláqua, Deyvid Bueno.

Abrindo a discussão, Elton Hizuka, coordenador de desenvolvimento de mercado da Fertiláqua, explicou a diferença entre os dois manejos: o nutricional trata da parte de fornecimento de elementos necessários e o fisiológico aborda as ferramentas de como fazer a planta “funcionar” melhor. 

O consultor Fernando Bacilieri esclareceu que o manejo de nutrição começa por meio do monitoramento e levantamento nutricional necessário para cada cultura. Define-se a produtividade esperada, observam-se os níveis de elementos no solo e o que deve ser feito para atingir o objetivo traçado. “São 17 elementos que as plantas utilizam. Três deles – carbono, hidrogênio e oxigênio – são obtidos naturalmente e os 14 são de nossa responsabilidade fornecer”.

Para atingir o máximo potencial, a aplicação de produtos bioestimulantes para melhorar o funcionamento da planta se faz necessária. “O manejo fisiológico tem alguns desafios principais: entender que em cada etapa de desenvolvimento, a planta tem uma necessidade especifica; no estabelecimento inicial, por exemplo, o objetivo é formar raiz, estruturar a planta. No vegetativo, há algumas etapas criticas como fixação de flores e enchimento de grãos. Precisamos entender qual processo a planta está realizando e como podemos favorecê-lo”, afirma Bacilieri. 

Segundo Hizuka, para trabalhar os dois manejos em conjunto é preciso ter primeiro a nutrição balanceada, para que a planta tenha os nutrientes para crescer e se desenvolver. A partir daí, trabalha-se com outras ferramentas, como os bioestimulantes que são substâncias que favorecem a planta, melhorando suas características fisiológicas e nutricionais, da germinação ao enchimento de grãos, para obter melhor performance. “Com uma base bem nutrida, a planta fica mais forte e vigorosa. Assim é possível estimulá-la para entregar mais produtividade”. 

No entanto, Bacilieri destaca que é fundamental saber o objetivo da aplicação que será feita. “Existem diversas ferramentas. Se o desejo é estimular enraizamento é uma aplicação, se é para atenuar estresses é outra específica. Entendendo o objetivo é que será definido o que utilizar, quanto e quando aplicar e o que se espera desse manejo”. 

O profissional ainda alerta que cada cultura tem sua exigência específica. “Na soja RR, tem a necessidade do manganês, para dar mais dureza à folha. O produtor quer economizar não aplicando manganês ou diminuindo a quantidade, e na prática vê uma planta deficiente e mais suscetível a ataque de pragas e doenças. Já no algodão, o boro é o segundo micronutriente exigido. A suplementação foliar e estimulante e favorece o desenvolvimento da raiz e a parte aérea”, comenta. 

Fonte: Grupo Cultivar 

Como prevenir doenças em brássicas

Causada pelo protozoário de solo Plasmodiophora brassicae, tem capacidade de comprometer o sistema radicular de suas hospedeiras e ser disseminada com facilidade. A prevenção é o melhor caminho para evitar prejuízos.


A hérnia das crucíferas é um dos raros casos de doenças de plantas causadas por um protozoário - 
Plasmodiophora brassicae Woronin. Este patógeno forma esporos de resistência com longa persistência no solo e que podem ser facilmente dispersos pelas mudas, pelas bandejas, pelo arraste de solo através da erosão, pela poeira, e em solo aderido a máquinas e implementos. Relatos apontam que a meia-vida dos esporos seja de 3,6 anos, podendo chegar, porém, a mais de 18 anos, mesmo que não seja realizado o cultivo subsequente de espécies hospedeiras, espécies da família Brassicaceae (Dixon, 2014). Esta característica implica em necessidade de atenção quanto a medidas preventivas para evitar a introdução deste patógenos nas áreas de produção de brássicas em geral.

A primeira constatação de P. brassicae no Brasil foi realizada no final de 1934, no estado de São Paulo, em couve-comum (Viegas & Teixeira, 1943). Atualmente, a sua presença já foi confirmada em vários outros estados, como Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo. No entanto, as perdas têm sido potencializadas nas áreas onde o cultivo das hortaliças suscetíveis é realizado de forma intensiva e continuada, como na região metropolitana de Curitiba, Paraná, na região Serrana do Rio de Janeiro (Nova Friburgo) e no cinturão verde de São Paulo. Nessas situações, as perdas têm sido frequentes e superiores a 60%. Em alguns casos, quando a quantidade e a distribuição de inóculo na área são elevadas, o cultivo de brássicas fica inviável por um período maior ou igual a dois anos. Este período, porém, não garante a eliminação do patógeno, apenas a redução da quantidade ou a viabilidade dos esporos de resistência no solo. 

Plantas jovens de brócolis apresentando sintomas da hérnia das crucíferas.
Plantas jovens de brócolis apresentando sintomas da hérnia das crucíferas.

Todos os membros da família Brassicaceae são hospedeiros potenciais de P. brassicae, por permitirem que o patógeno complete todo o seu ciclo de vida (Dixon, 2009). Dentre as hortaliças desta família, devido à importância econômica e à suscetibilidade, maiores perdas têm sido registradas em couve-flor e brócolis, principalmente quando cultivadas no período de verão. As temperaturas mais elevadas e a maior umidade deste período favorecem o desenvolvimento da doença e das perdas. Mas para infortúnio dos produtores, este é o período em que alcançam melhores preços na venda. 

O sintoma típico da doença é a formação de galhas (hérnias) no sistema radicular, em decorrência da rápida e desordenada multiplicação das células, em tamanho e número. Estas galhas prejudicam a absorção de água e de nutrientes, provocando sintomas de deficiência de nutrientes, amarelecimento e murcha das folhas, principalmente nos períodos mais quentes do dia. Todos esses distúrbios provocam o subdesenvolvimento das plantas hospedeiras que, em consequência, apresentam inflorescências, cabeças ou folhas de baixo valor comercial, afetando a produtividade e a rentabilidade. Em condições mais propícias ao desenvolvimento da doença, pode ocorrer a morte prematura das plantas.

Murcha causada por hérnia das cruscíferas em brócolis.
Murcha causada por hérnia das cruscíferas em brócolis.

Os esporos de resistência de P. brassicae permanecem dormentes nos solos até serem estimulados pela presença de exsudados liberados pelas raízes de plantas hospedeiras. Os exsudados estimulam a germinação dos esporos e a liberação de zoósporos biflagelados. Com auxílio destes flagelos, os zoósporos se movimentam através do filme de água do solo até alcançar e penetrar nos pelos radiculares. A umidade do solo é um fator-chave para o sucesso do patógeno nesta fase inicial do ciclo. Após se multiplicar nos pelos radiculares, o patógeno migra e penetra nos tecidos corticais da raiz, onde causa uma série de alterações fisiológicas e anatômicas que culminam com a multiplicação desordenada e o alargamento das células e, consequentemente, a formação das galhas ou tumores. No interior destas galhas são formados os esporos de resistência, liberados no solo durante o apodrecimento gradual das raízes e, a partir de então, dispersos na área ou para novas áreas.        

As condições que contribuem para o desenvolvimento da doença são a presença de alta concentração de esporos de resistência (≥106  unidades g-1 de solo), solos ácidos (pH ≤ 6,2), com baixos níveis de cálcio, alta umidade, principalmente quando excede a 70% da capacidade de campo,  e temperaturas próximas a 25°C (Gossen et al., 2014). Mais recentemente, foi reportado que as perdas podem ser potencializadas em função da toxidade causada pelo íon alumínio (Al3+) no solo (Bhering et al., 2017) pelos danos que este causa às raízes das plantas em solos ácidos.

O patógeno pode ser disperso pelo carregamento de esporos contidos no solo durante os processos de aração e gradagem e no escoamento superficial de água. Mudas contaminadas também são agentes de disseminação da doença (Gossen et al., 2014). Com isso, o uso de maquinários, implementos agrícolas e quaisquer outros materiais contendo o patógeno pode ser fonte potencial de inóculo e colaborar para a sua introdução em novas áreas de cultivo de brássicas. Cultivos contínuos e intensivos favorecem a multiplicação, a dispersão e a sobrevivência do patógeno nas áreas. 

Sintomas da hérnia das crucíferas em raízes de couve-flor e de rúcula.
Sintomas da hérnia das crucíferas em raízes de couve-flor e de rúcula.

Em função das opções de controle da doença serem restritas, a prevenção deve ser vista como a principal estratégia. Recomendações como o uso de mudas sadias, adquiridas em viveiristas idôneos, o manejo correto do solo, o uso de água de boa qualidade e isenta de contaminação, além da lavagem e da sanitização de pneus de tratores e dos implementos agrícolas, são essenciais para evitar a introdução do patógeno na área.

Uma vez presente na área, o controle da doença deve ser visto sob uma concepção integrada. Diferentemente de outros patossistemas, a disponibilidade de cultivares resistentes é extremamente limitada, estando restrita a apenas alguns materiais de couve-chinesa. Ainda, para o seu controle químico, está registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apenas um princípio ativo, o ciazofamida (Agrofit, 2019). Assim, melhorias nas condições químicas e biológicas do solo são estratégias básicas e que devem ser consideradas. A calagem é a estratégia mais tradicional e importante para o manejo da doença e da cultura.  A elevação do pH, o fornecimento de Ca e a redução do Al3+ tóxico podem reduzir as perdas causadas pela doença (Bhering et al., 2017). Resultados obtidos por Santos et al. (2017) indicam redução de 17,8% na severidade da doença, e incrementos de 26,5%, 32,5% e 37,78% no volume de raiz sadia, massa seca total de raiz e massa fresca de inflorescências de couve-flor, respectivamente, com a aplicação de 4 t/ha de calcário em comparação à testemunha.

Outros pontos que devem ser considerados são a aplicação de matéria orgânica de boa qualidade, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras e o pousio.  Aliado a isso, especula-se que o cultivo de algumas plantas não hospedeiras, como alho-poró, azevém e centeio, poderia reduzir o potencial de inóculo no solo por atuarem como iscas e não permitirem que o patógeno complete o seu ciclo (Donald e Porter, 2009).

Embora sejam práticas onerosas, o arranquio e a destruição das raízes das plantas contendo hérnia, por ocasião da colheita, também são recomendadas. Ao arrancá-las e queimá-las impede-se a reposição do inóculo ao solo.

Sintomas da hérnia das crucíferas em raízes de couve-flor.
Sintomas da hérnia das crucíferas em raízes de couve-flor.

Em estudos realizados pela UFRRJ, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, maior produtor nacional de couve-flor, constatou-se que, além do cultivo intensivo desta espécie há mais de 30 anos, outras condições têm favorecido perdas pela hérnia das crucíferas, como: a) relevo declivoso e baixa adesão ao uso de práticas de conservação de solo, como plantio em curvas de nível, terraceamento ou canais escoadouros de água para reduzir e/ou evitar o arraste de solo contaminado; b) não realização de calagem e de outras recomendações técnicas no manejo da fertilidade do solo (Bhering et al., 2017; Santos et al., 2017).

Apesar dos exaustivos investimentos realizados mundialmente, ainda não existe uma estratégia de controle única e que resulte em controle eficiente da doença. Desta forma, a adoção de medidas preventivas e profiláticas é a principal estratégia para o controle desta doença, como uso de mudas sadias, cuidado e limpeza de máquinas e implementos, e manejo correto da fertilidade, incluindo correção da acidez do solo, rotação de culturas e a remoção e a destruição de plantas doentes.  Práticas que favoreçam o desenvolvimento das raízes pelas plantas também podem contribuir para reduzir as perdas.

Pesquisas em desenvolvimento no Brasil e em países como Canadá, Austrália e Alemanha vêm sendo realizadas em busca da compreensão das interações existentes entre o patógeno, os fatores de solo e as plantas hospedeiras. Pode-se concluir, portanto, que o manejo da hérnia das crucíferas é complexo e que, por ora, as medidas de caráter preventivo são as mais importantes para se evitar riscos de perdas pela doença. 

Carlos Antônio dos Santos, Aline da Silva Bhering, Nelson Moura Brasil do Amaral Sobrinho e Margarida Goréte Ferreira do Carmo, UFRRJ

Fonte: Grupo Cultivar 

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Reutilização de equipamento gera economia ao produtor e é sustentável ao planeta

 

Tecnologia da MP Agro com baixo investimento transforma autopropelidos antigos que não teriam mais uso em distribuidores de sólidos.

Ser sustentável é uma missão diária e desafio para uma grande parte da população mundial. Esse pensamento também vem se tomando habitual no agronegócio e pequenas atitudes se tornam grandes ações quando falamos em preservação do meio ambiente. É com esse objetivo que a MP Agro Máquinas Agrícolas desenvolveu e oferece sua Linha Z de transformação de autopropelidos antigos em distribuidores de sólidos. “Sem dúvida esta é uma alternativa para reciclar um equipamento já existente que não teria mais utilidade, economizando em novas matérias primas e ainda reaproveitando um investimento feito lá atrás”, destaca o diretor comercial da empresa, Michael Periani.

E como tudo isso é feito? Na própria fazenda, conforme explica o profissional. Os modelos de distribuidores são exclusivamente desenvolvidos para todas as marcas de autopropelido do mercado, ou seja, as configurações são específicas para a máquina que o produtor tem, com fácil instalação realizada pela equipe técnica da fábrica diretamente na propriedade em menos de um dia. “Esse modelo de negócio gera uma grande economia ao produtor que transforma um equipamento próprio já amortizado em um distribuidor de fertilizantes novo investindo menos de 20% em relação ao valor de um autopropelido novo que custa em média R$750.000,00”, ressalta Periani.

Quando um autopropelido é transformado em distribuidor, há a remoção do sistema de pulverização para a instalação do sistema de distribuição totalmente compatível com o chassi da máquina. O sistema hidráulico antes utilizado para acionamento do pulverizador também é aproveitado para tocar o distribuidor. Para os casos de autopropelidos incompatíveis, a empresa ainda oferece um sistema hidráulico novo que torna a máquina apta a operar em 100% de eficiência.

Ao modernizar uma máquina e dar uma nova função a ela, estamos falando não só em economia ao produtor, mas também pensamos que um maquinário de alto valor não pode ser sucateado e nem os materiais e toda energia e mão de obra necessárias para produzi-lo.

Em média, segundo o profissional da MPAgro, o sistema de pulverização de um autopropelido fica defasado principalmente em tecnologia a cada seis anos. Além de ser muito exigido, o autopropelido é o equipamento responsável por transportar e aplicar produtos que representam um custo extremamente relevante na produção. “Portanto, toda tecnologia capaz de reduzir o desperdício de produtos se torna viável, pois o retorno do investimento precisa acontecer o quanto antes para o produtor. Que é o caso dos distribuidores de sólidos da Linha Z da empresa, que além de aproveitar o equipamento já existente, tem durabilidade eterna por sem totalmente inox, alta tecnologia de precisão e ainda economiza em insumos, mais uma vez poupando mais ainda recursos naturais”, afirma Periani.

Além disso, outra grande vantagem dessa solução é possibilitar a produtores que ainda não possuem distribuidores autopropelidos na propriedade a adquirir um equipamento desses pois o resultado gerado nesse modelo de operação é diferenciado. “Os principais fatores que classificam a aplicação de fertilizantes por distribuidores autopropelidos como a melhor opção são: menor amassamento de plantas, pois aproveita o mesmo rastro do pulverizador, economia de combustível em relação à um conjunto trator/carreta e principalmente a possibilidade de aplicação de fertilizantes em culturas altas como o caso das aplicações de cobertura de nitrogênio no milho ou algodão”, destaca.

Produtores que fizeram a transformação de autopropelidos

Muitos produtores já aderiram a essa tecnologia mais sustentável. É o caso de Cristian Willy Braun, do Grupo Agro Braun, proprietário das Fazendas Maranata e Canário, de Primavera do Leste/MT, que possui há dois anos a máquina MP Z 5.0, da Linha Z em cima de um autopropelido 4630 da John Deere.

Segundo ele, antes de adquirir a Z5.0, avaliaram as máquinas disponíveis no mercado, e sempre tinha algo que não agradava. Foi quando surgiu a ideia de montar no autopropelido na fazenda mesmo. “Estudamos um plano e avaliando o equipamento, optamos pela MP pelo material de INOX. Além de bonita e muito prática, hoje tenho uma máquina que ficou muito mais barata que os autopropelidos disponíveis no mercado, e nos surpreendeu com a eficiência, que é melhor do que se encontra no mercado. O custo benefício da máquina em inox também fica evidente, pois você investe na hora de comprar o implemento em inox, mas economiza muito com manutenção em comparação à uma máquina de aço carbono que precisa de pintura, manutenção, jato de areia.”, afirma o produtor.

Fonte: Grupo Cultivar 

8 de agosto é o Dia do Produtor Rural Sergipano

  Por Shis Vitória/Agência de Notícias Alese Pensando na importância que o agronegócio possui na cadeia produtiva e pela ligação com vários ...