A soja é um dos carros-chefes da balança comercial do agro brasileiro e a cultura de maior importância econômica para o país, com uma área plantada de 38,3 milhões de hectares espalhados de Norte a Sul do Brasil. As dimensões da sua importância são, no entanto, proporcionais ao desafio de manter a lavoura saudável da semeadura à colheita. Mais do que nunca, os sojicultores têm sido demandados a redobrar a atenção no manejo agrícola em função da incidência de doenças nas plantas.
A mais temida delas é a ferrugem asiática, causada por um fungo que provoca a desfolha da planta, acarretando perdas superiores a US$ 2 bilhões por ano/safra. “Esta é a estimativa do custo ferrugem, que engloba tanto o prejuízo (queda de produtividade) que ela causa, quanto o gasto para se realizar o controle da doença”, explica o pesquisador Rafael Soares, da Embrapa.
O custo da doença para o Brasil é tão alto que a Embrapa montou e coordena o Consórcio Antiferrugem. Trata-se de um projeto que congrega empresas públicas e privadas, que monitoram os locais de incidência do fungo. Toda ocorrência é notificada no site da iniciativa, como forma de alertar o produtor em quais localidades a doença já apareceu. “Neste ano, detectamos em 11 estados, mas como a semeadura atrasou em várias regiões e o início do ano foi mais seco, a ferrugem asiática não está causando epidemias fortes”, diz Soares.
Mesmo assim, o produtor não pode descuidar. O uso incorreto de defensivos agrícolas ou uso contínuo do mesmo princípio ativo é um dos principais fatores para o surgimento de populações resistentes do fungo. No médio prazo, isso acarreta perda de eficácia das moléculas utilizadas nesses defensivos, trazendo prejuízos ao agricultor.
No Brasil, as condições tropicais tornam a situação ainda mais preocupante, já que elas favorecem a propagação de pragas e doenças, o que agrava o cenário de aumento da resistência aos fungicidas usados na lavoura. “Uma forma de proteger e manter o controle nesta conjuntura é fazer uma aplicação combinada de diferentes modos de ação para combater o fungo”, diz Ximena de Souza Vilela, gerente de Produtos Fungicidas da IHARA. Com base nesse conceito, a indústria de defensivos tem ido além do desenvolvimento de produtos com alta tecnologia, passando a investir também na pesquisa e recomendação do melhor manejo.
Compondo o robusto portfólio que a IHARA possui para a cultura da soja, Fusão EC é um fungicida específico, que age de forma sistêmica, proporcionando alta performance no controle da ferrugem e manchas foliares da soja, tem versatilidade de uso, podendoser usado em qualquer fase da cultura, além de ter alta velocidade de absorção e baixo risco de perda por chuva, além de possuir registro para as principais culturas sucessoras da soja, como: milho, algodão, trigo, feijão, entre outras. Em 2021, Fusão EC alcançou a liderança em performance no segmento de produtos strobi mixno Consórcio de Rede de Ferrugem, sendo o fungicidaque mais cresce em performance no cenário atual.
A estratégia de Fusão EC visa fortalecer a defesa da lavoura na batalha contra várias doenças que afetam a produtividade da soja.
A comunidade científica recomenda que os fungicidas sejam usados de forma preventiva, porque a eficácia diminui quando a doença já está estabelecida, comprometendo a produtividade. “O ideal é o produtor iniciar as aplicações antes do fechamento da lavoura (fase entre o final do ciclo vegetativo e início do reprodutivo), quando as gotas de produto conseguem alcançar as folhas da parte inferior da planta, por onde a maioria das doenças começa a infecção”, explica Ximena. “É fundamental que o intervalo entre uma aplicação e outra não ultrapasse 14 dias, já o número de aplicações vai depender das condições climáticas e pressão da doença em cada região. Todavia, o recomendável atualmente é que se faça pelo menos três”, acrescenta.
“A incidência e severidade das doenças varia de acordo com a região. Por isso, é essencial o produtor observar quais problemas são, historicamente, mais recorrentes na sua localidade, além de estarem sempre atentos às condições climáticas em cada safra”, finaliza Ximena.
O programa de melhoramento genético de forrageiras conduzido pela Embrapa desenvolveu a primeira cultivar deUrochloa ruziziensis ouBrachiaria ruziziensis, como o capim era denominado cientificamente (leia explicação no quadro abaixo). Essa cultivar foi desenvolvida para as condições de solo e clima no Brasil e recebeu o nome deBRS Integrapor se destinar aos sistemas de integração lavoura, pecuária e florestas (ILPF).
Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de LeiteFausto Souza Sobrinho, que conduziu os estudos, comparada à cultivar atualmente disponível no mercado (cv. Kennedy) a BRS Integra apresenta maior produção de forragem na entressafra, quando o capim está solteiro na área. “Esse diferencial, no período de seca, torna a cultivar mais indicada para a ILPF, podendo contribuir com o aumento de produtividade desses sistemas”, explica Souza Sobrinho.
Antes da BRS Integra, a cv. Kennedy era a cultivar de ruziziensis existente no mercado de sementes forrageiras. O problema é que ela não foi desenvolvida especificamente para as condições edafoclimáticas (solo e clima) brasileiras. Para o pesquisador, apesar de possuir boa adaptação às diferentes condições ambientais do País, a cultivar Kennedy apresenta menor produção de forragem se comparada a cultivares de outras espécies de braquiária como a brizantha ou a decumbens. “Isso acontece principalmente no inverno, durante a entressafra das lavouras, quando nos sistemas integrados de cultivo, as forrageiras se encontram sozinhas na área ou acompanhadas apenas pelo componente florestal”, explica Souza Sobrinho.
Ao manter a produtividade alta no inverno, a BRS Integra pode ser aproveitada tanto como forragem para alimentação do gado na entressafra, quanto como palhada para o próximo plantio das lavouras.
O cientista explica ainda que, embora a brizantha e a decumbens possuam maior área cultivada no País, a ruziziensis vem aumentando seu espaço com o incremento da ILPF. “A espécie tem sido muito utilizada nesses sistemas devido à sua melhor adaptação à sobressemeadura em relação às demais. O também pesquisador da Embrapa Alexandre Brighenti aponta outra vantagem. “A ruziziensis é mais sensível a herbicidas, demandando doses mais baixas na dessecação pré-semeadura de cultivos em sistemas de plantio direto.” Além disso, a produção de sementes da espécie é uniforme, pois só floresce uma vez por ano, tornando o seu controle mais fácil.
O novo nome da Brachiaria: Urochloa
Originária da África, ela possui boa adaptabilidade a solos de baixa fertilidade e a diferentes climas e latitudes, além de apresentar agressividade na competição com plantas daninhas e proporcionar bom desempenho animal. Essas qualidades fizeram do gênero braquiária quase um sinônimo de pastagem. Cultivada em regiões tropicais, a gramínea possui uma centena de espécies. Além da ruziziensis, outras bastante conhecidas e utilizadas no Brasil são decumbens, brizantha e humidicola.
De um total 180 milhões de hectares de pastagens no País, 80% pertencem ao gênero Brachiaria. Ou pertenciam. Recentemente, os cientistas reclassificaram quase todas as braquiárias para o gênero Urochloa. A reclassificação segue critérios taxonômicos (normas de classificação) cuja função é organizar vegetais e animais, facilitando o estudo e a identificação dos organismos vivos. Dessa forma, cada planta ou animal ganha nome (gênero) e sobrenome (espécie), mas mudanças podem ocorrer para facilitar o trabalho dos cientistas.
Foi o que aconteceu com a Brachiaria. No entanto, por questões legais, desde a última reclassificação taxinômica, a nomenclatura científica para o “capim braquiária” passa a ser “Urochloa (sinonímia, Brachiaria)” ou “Brachiaria (sinonímia, Urochloa)”. A sorte é que, para o produtor, nada muda e a “brachiaria” pode continuar sendo chamada de braquiária, como fizemos nesta reportagem. O mesmo serve para as expressões idiomáticas e ninguém precisa “vazar na urochloa” se quiser sair rapidamente de algum lugar. “Vazar na braquiária” ainda é uma forma válida de se retirar.
Recomendações da Embrapa para o cultivo da BRS Integra
Composta por plantas vigorosas, de porte médio, com altura entre 80 cm a 110 cm, a BRS Integra possui boa capacidade de cobertura do solo e o crescimento tende a ser ereto. Suas folhas possuem o terço final arqueado e medem em média 25 cm (comprimento) e 1,5 cm (largura). A planta apresenta colmos finos e alta taxa de perfilhamento tanto basal como axilar (perfilhos aéreos). No campo experimental da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco (MG), o florescimento ocorre nos meses de fevereiro e março e a maturação das sementes, em abril e maio. Comparativamente à cv. Kennedy, a produção de forragem total e palhada da nova cultivar no outono/inverno (período seco em boa parte do País) é maior. Indicada para o Bioma Mata Atlântica, a BRS Integra se adapta a solos de média a alta fertilidade, podendo ser cultivada desde o nível do mar até 1.800 metros de altitude.
Os pesquisadores recomendam evitar o plantio em áreas de várzeas úmidas ou sujeitas a alagamentos. Se a semeadura for exclusiva, ou seja, para a formação do pasto, o solo deve ser preparado de forma convencional, efetuando-se arações e gradagens, conforme a necessidade e condição do terreno. Na semeadura, é necessária atenção especial no controle de plantas daninhas para não comprometer o estabelecimento e a longevidade da pastagem. No caso de plantios consorciados, nos sistemas integrados de cultivo, a semeadura poderá ser realizada concomitantemente às lavouras. Outra forma é realizar o plantio, com um atraso de alguns dias em relação à lavoura, a fim de evitar ou reduzir a competição inicial com ela e, ainda, por meio da sobressemeadura próxima à colheita da lavoura.
- Calagem – deve ser realizada com antecedência mínima de 60 dias em relação à data prevista para a semeadura, com base nos resultados da análise de solo, visando alcançar 50% de saturação por bases, utilizando-se de calcário dolomítico, nas condições de baixo teor de Mg+2 aplicado antes da aração do solo, aumentando assim, a eficiência na correção da acidez.
- Adubação de estabelecimento ou de plantio – precisa ser baseada nos resultados da análise de solo. Nas condições tropicais, os maiores limitantes em relação à fertilidade do solo estão relacionados aos baixos teores de fósforo e à acidez dos solos. Sendo assim, recomenda-se apenas a aplicação de adubação fosfatada, na base de 100 kg/ha de P2O5, distribuídos no fundo dos sulcos, ou a lanço. A aplicação do potássio deverá ser realizada quando o teor de potássio trocável no solo for inferior a 50 mg/dm3, numa dose de 80 a 100 kg/ha de cloreto de potássio (KCl).
- Adubação de manutenção/cobertura – deve ser realizada 60 dias após a semeadura, sendo recomendada a aplicação de 200 kg de N e K2O e 50 kg de P2O5 por hectare/ano, fracionadas em três aplicações iguais, (início, meio e fim da época chuvosa). O adubo fosfatado poderá ser aplicado de uma única vez no início da estação chuvosa. As adubações devem ser realizadas ao longo da estação das águas, quando as condições de umidade do solo forem favoráveis.
- Semeadura - A semeadura pode ser realizada tanto com máquinas quanto a lanço, utilizando sementes de alta qualidade entre dois a dez quilos/ha de sementes puras viáveis. Quando o propósito é a semeadura direta, visando apenas a produção de palhada, normalmente recomenda-se menores quantidades de sementes. Semeaduras à lanço requerem maiores quantidades de sementes, que devem ser aumentadas quando o objetivo for a formação e o estabelecimento rápido de uma pastagem.
- Cigarrinhas-das-pastagens – A BRS Integra é suscetível às cigarrinhas-das-pastagens, assim como a cv. Kennedy.
O desenvolvimento da BRS Integra
O fato de só haver uma cultivar de ruziziensis disponível no mercado de sementes, sem informações detalhadas sobre seu potencial forrageiro, dificultava a expansão da área cultivada. “Associado ao aumento crescente da área cultivada com ruziziensis, o problema levou a Embrapa a pesquisar novas cultivares capazes de atender a demanda da pecuária brasileira”, conta Souza Sobrinho. Segundo ele, o desenvolvimento da espécie primou pela obtenção de cultivares de alta produtividade e boa qualidade da forragem. A possibilidade do uso em sistemas de ILPF, que se expandiram na última década, traçou o caminho do desenvolvimento da BRS Integra.
“O programa de melhoramento teve como estratégia a seleção recorrente fenotípica, que se baseia em ciclos de avaliação, identificação e seleção dos melhores indivíduos e sua recombinação para obtenção de novas populações melhoradas, ou seja, com frequências mais elevadas dos alelos desejáveis”, explica o pesquisador. A existência de variabilidade genética entre progênies ou plantas de ruziziensis para todas as características avaliadas, observada nos primeiros ciclos, tem impulsionado o programa de melhoramento genético da espécie e mostrado a possibilidade de seleção de genótipos superiores.
Ao fim do terceiro ciclo de seleção foram obtidas 14 populações melhoradas para avaliações posteriores. Esses grupos foram identificados basicamente pela superioridade em relação à produtividade e à qualidade da forragem. A população denominada "REC 2" se destacou nas avaliações posteriores, incluindo os ensaios para determinação do valor de cultivo e uso (VCU) sob corte, realizados entre os anos de 2013 e 2016. O material genético também foi testado sob pastejo seguindo as normas de VCU do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), nos anos de 2016 a 2018. Nesses ensaios de pastejo, a população "REC 2" mostrou-se semelhante à cultivar comercial (Kennedy) tanto em produtividade de forragem como em desempenho animal.
Semelhanças entre as duas cultivares também foram verificadas em ensaios comparativos da produtividade de leite de vacas mestiças. Nesse caso, embora a produtividade animal tenha sido semelhante, a BRS Integra confirmou os resultados obtidos nos ensaios de VCU sob corte, produzindo maiores quantidades de forragem e de folhas e menores quantidades de material morto na época seca do ano, além de apresentar melhor relação entre folhas e caules na maior parte do ano, comparado à Kennedy.
A população "REC 2", após confirmada sua superioridade nos ensaios de VCU, foi registrada no MAPA como nova cultivar sob o número 40794, em 29/04/2019, sendo denominada de U. ruziziensis “BRS Integra”. Essa nova cultivar recebeu, junto ao MAPA, certificado de proteção de cultivares número 20210042 em 21/01/2021.
Rubens Neiva (MTb 5.445/MG) Embrapa Gado de Leite
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Lamentando profundamente a recente tensão entre Rússia e Ucrânia, que levou a operações de guerra, o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) alerta para o risco do aumento de preços e de escassez de fertilizantes, elementos essenciais para a agricultura brasileira, tendo em vista a elevada dependência que o Brasil tem na importação de potássio, tanto da Rússia como da Ucrânia.
Levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostra que os preços pagos pelo agronegócio brasileiro aumentaram até 5,8% em apenas uma semana. Há que se considerar, também, que restrições à agricultura brasileira podem impactar o fornecimento de alimentos produzidos no Brasil para o mundo, com destaque para a China.
Potência ascendente do agronegócio, com participações crescentes nas exportações de alguns dos principais produtos do setor comercializados no mundo, o Brasil depende cada vez mais de insumos importados para fomentar sua produção agropecuária e atender às demandas externa e doméstica por commodities, alimentos processados e biocombustíveis.
O déficit na balança comercial brasileira de fertilizantes é função não apenas da demanda aquecida do setor agrícola nacional, mas também da estrutura de produção e da deficiência de insumos domésticos. O setor envolve altas economias de escala e, embora o país tenha potencialidades, não conta com o nível adequado de investimentos.
Há ainda muitos desafios a serem superados no país para se obter a independência no se refere à produção nacional de fertilizantes, que passam pela: i) articulação de políticas públicas e privadas, visando ampliar o investimento em pesquisa geológica focado na descoberta de depósitos de fosfato e principalmente potássio; ii) isonomia tributária entre o produto nacional e o importado, pois hoje a importação é mais vantajosa do ponto de vista tributário; iii) harmonização de alíquotas de ICMS, que se aplicada, promoveria um ambiente concorrencial equilibrado entre os produtos nacionais e os de origem estrangeira, tema encaminhado pelo Convênio 100 do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), mas que precisa ser endereçado em definitivo.
No que se refere às oportunidades já existentes no Brasil, merece destaque o Projeto Silvinita, no estado do Amazonas, que tem elevado potencial para reduzir a dependência externa do potássio, cuja implementação vem sendo buscada há vários anos. No entanto, ainda enfrenta desafios para seu licenciamento, que poderiam ser equacionados no plano interno nacional, por meio de sua priorização como elemento estratégico para a soberania nacional.
Nesse contexto, visando a busca de soluções para o avanço do Projeto Silvinita, 0 IBRAM sugere ao Governo Federal a criação de um grupo de trabalho no âmbito da Casa Civil da Presidência, envolvendo a empresa Potássio Brasil, o Governo do Amazonas, Secretaria de Assuntos Estratégicos, IBAMA, FUNAI, Agência Nacional de Mineração, Serviço Geológico do Brasil, Petrobras, Comissões de Agricultura da Câmara e Senado, e o próprio IBRAM. Este GT traria um novo contorno ao GT criado na Secretaria de Assuntos Estratégicos em 2021 e também teria a incumbência de promover a expansão da produção nacional dos insumos necessários ao atendimento da demanda por fertilizantes. O IBRAM está à disposição das autoridades e da sociedade brasileira para dar andamento a esta proposta.
Aumentos nos custos mundiais de energia, desvalorização do real em relação ao dólar, maior carga tributária sobre os fertilizantes imposta pela China, ameaças de embargos de alguns países produtores de fertilizantes como a Bielorrúsia e aumento da demanda mundial por fertilizantes. Pronto, temos o cenário perfeito para uma natural, e significativa elevação nos preços de fertilizantes que chegam ao produtor rural. Tão natural quanto o comportamento dos preços é o raciocínio dos agricultores: “É hora de otimizar o uso do insumo!”. Raciocínio fácil, decisão difícil. Como adubar em ano de altas de fertilizantes?
O primeiro passo é ajustar o alvo e definir o objetivo. Nesse sentido, a busca do agricultor deve ser em realizar a adubação que traga a maior rentabilidade e não a máxima produtividade. Fertilizantes não somente garantem a produção, como também potencializam os ganhos em sacas por hectare. No entanto, o custo e o volume de fertilizantes para o agricultor aumentar sua produtividade de 80 para 90 sc/ha é significativamente maior do que elevar de 70 para 80 sc/ha. Em ambos os casos, o incremento é de 10 sc/ha porém, os investimentos não acompanham a mesma proporção. Seguindo essa lógica, também conhecida como lei dos incrementos decrescentes é que os agricultores devem estabelecer a expectativa de produtividade bem como a adubação, necessária para o atingimento da mesma.
O segundo ponto de atenção é desconfiar de recomendações extremas com grandes restrições de uso de fertilizantes para 100% da área. Existe uma falsa ideia de que nos últimos anos foi criado um bônus de fertilidade, visto que não houve redução nas quantidades adubadas. Ao serem analisados mais de 1000 campos de pesquisas internas da Mosaic (dados não publicados) observa-se que, nos últimos 3 anos o agricultor adicionou menor quantidade de nutrientes do que foi exportado pelas colheitas dessas safras. Ou seja, o balanço é negativo, não foi criado o bônus que poderia ser utilizado em reduções na adubação para a safra corrente. Somado a isso, grande parte desses campos analisados apresentaram teores de nutrientes da análise de solo com valores baixos, muito baixos e, médios. Portanto, o ideal é seguir recomendações técnicas regionalizadas, pautadas em análise da fertilidade do solo e curvas de resposta relacionando adubação e produtividade.
O terceiro e último ponto é investir em tecnologia. Em primeira vista parece contraditório essa abordagem em anos de crise. Contudo, optar por insumos de maior desenvolvimento tecnológico contribui não só para o aumento da produtividade, como principalmente para o aumento da eficiência agronômica. Isso passa pelo material genético escolhido, defensivos e também para os fertilizantes. A Mosaic traz em seu portfólio fertilizantes de eficiência superior que, garantem a nutrição das plantas e maximizam a rentabilidade do produtor.
Em anos desafiadores como este, onde os custos de insumos impactam duramente no bolso do produtor, o sucesso é alcançado no detalhe, no capricho, na análise minuciosa de cada talhão e, assim, definir com critérios técnicos qual o melhor caminho. O cenário de alta é o mesmo para todos. Porém, as reações são diferentes: algumas aleatórias e emocionais e outras criteriosas e racionais; com isso, a recomendação é seguir a segunda opção. Consulte um agrônomo, faça análise de solo, defina com a maior precisão possível as expectativas de produtividade que trarão a máxima rentabilidade considerando custo dos fertilizantes, invista em tecnologia, fuja de recomendações extremas e, fique de olho nos resultados de pesquisas da sua região.
Um dos cultivos de maior importância econômica, cultural e social, o feijão está difundido por todo território brasileiro, sendo o terceiro grão mais plantado (em ha), atrás apenas da soja e do milho. Independente da variedade ou cultivar, o cultivo de feijão é conhecido por sua complexidade de manejo, especialmente em regiões de agricultura intensiva, com temperaturas amenas e elevada umidade relativa do ar, fato que favorece o desenvolvimento de doenças na cultura.
Considerada uma cultura sensível a pragas, doenças e condições ambientais, certos cuidados são necessários na fase de implantação da lavoura de feijão para a obtenção de altas produtividades do grão. Fatores como clima, fertilidade do solo, cultivar, hábito de crescimento, sistema de produção e resistência a pragas e doenças devem ser levados em consideração no início da implantação da lavoura.
O cuidado com todos esses pontos são fundamentais para garantir um adequado estande de plantas, estabelecimento da lavoura e rentabilidade do cultivo, contudo, tanto pragas quanto doenças devem receber atenção especial durante o ciclo de desenvolvimento do feijoeiro. Independente da época de semeadura do feijão, 1ª safra 2ª safra ou 3ª safra deve-se estabelecer certos cuidados nos estádios iniciais da lavoura.
Condições de elevada umidade do solo além de prejudicar o estabelecimento da lavoura favorecem o desenvolvimento de doenças fúngicas a exemplo da Fusariose. Popularmente conhecida como Podridão-radicular-seca (Fusarium solani) essa doença causa lesões no colo da planta, podendo causar destruição das raízes primárias impossibilitando a absorção de água e nutrientes do solo, refletindo na morte de plantas e redução do estande (Wendland; Lobo Junior; Faria, 2018) .
Figura 1. Sintomas típicos de Podridão-radicular-seca (Fusarium solani) nas raízes de feijoeiro-comum.
Foto: Murillo Lobo Junior
Doenças como a Antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), e a Podridão-radicular de Rhizoctonia solani também são comuns em algumas áreas de produção do feijão nos estádios iniciais do estabelecimento da cultura. No caso da Antracnose, o patógeno é capaz de infectar as sementes, provocando sintomas como a formação de pequenas lesões escuras nos cotilédones e lesões superficiais ou deprimidas no hipocótilo. Já a Rhizoctonia solani, quando a infecção ocorre no estágio de plântula, o fungo produz lesões deprimidas de forma irregular, com a cor castanho-avermelhada na base do caule, que resultam em morte de boa parte do sistema radicular e/ou tombamento das plântulas (Wendland; Lobo Junior; Faria, 2018).
Dentre as possíveis práticas de manejo para controle dessas doenças, podemos destacar o uso de sementes certificadas (livre de patógenos e de boa qualidade física, fisiológica, genética e sanitária), a semeadura e implantação da cultura em áreas bem drenadas, a boa e velha rotação de culturas e principalmente, o tratamento de sementes com fungicidas específicos para o controle dessas doenças.
Figura 2. Sintomas de Antracnose em plântulas de feijoeiro-comum.
Foto: Adriane Wendland
Além da alta suscetibilidade a doenças, pragas iniciais também são problema para o cultivo de feijão. Insetos como o Gorgulho-do-solo (Teratopactus nodicollis); coros, lagarta-rosca (Agrotis ipsilon); Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), Spodoptera (Spodoptera frugiperda) e larva-alfinete (Diabrotica speciosa) podem causar sérios danos a plântulas de feijão. Os danos variam em função das pragas, mas pode ocorrer desde destruição das raízes da plântula a seu corte a nível do solo.
Figura 3. Danos de Spodoptera frugiperda em plântulas de feijão.
Foto: Eliane D. Quintela
Dentre as principais consequências do ataque de pragas no início do desenvolvimento da cultura podemos destacar a redução do estande de plantas, implicando diretamente no número de plantas por metro quadrado. Além dessas, outra praga que causa sérios danos a cultura é a Mosca-branca (Bemisia tabaci). Considerada uma praga sugadora, seus principais danos não estão relacionados a sucção de seiva das plantas, mas sim a transmissão do vírus do mosaico-dourado “Bean Golden mosaic virus” e mais recentemente observado o carlavírus “Cowpea mild mottle virus”. Os danos são mais significativos quanto mais jovem a planta for infectada pelos vírus, podendo ocorrer perda total da produção (Quintela & Barbosa, 2015).
Assim como para o controle de doenças de início de ciclo do feijão, o tratamento de sementes exerce significativo efeito para o controle de pragas iniciais, sendo assim, deve-se aliar ao tratamento de sementes com fungicidas, inseticidas para controle dessas pragas. Além do uso desses produtos no tratamento de sementes, é fundamental atentar para a qualidade desse tratamento.
Além de todos esses cuidados citados anteriormente (sementes de qualidade, tratamento de sementes, controle de pragas e doenças…), deve-se atentar para a profundidade de semeadura e distribuição de sementes para o cultivo do feijão, utilizando populações adequadas, com base nas recomendações técnicas da empresa detentora da tecnologia (produtora da semente). Elevadas profundidades de semeadura podem dificultar a emergência das plantas de feijão, retardando o estabelecimento da lavoura. A recomendação geral é utilizar 3 a 4 cm de profundidade em solos argilosos ou com umidade adequada, e, 5 a 6 cm em solos arenosos, em virtude da evaporação (perda) de água mais rápida, especialmente em sistemas sem palha na superfície. Em plantio realizado com solo frio, deve-se optar por profundidade de 3 a 4 cm (Comissão Técnica Sul-Brasileira de Feijão, 2012).
Figura 4. Emergência de plântula de feijão.
Fonte: Agroclima by Climatempo
Outro fato importante sobre o cultivo de feijão, deve-se atentar para o manejo e controle de plantas daninhas, uma das principais estratégias é realizar a implantação da lavoura “no limpo”, especialmente se tratando de lavouras sob sistema de plantio direto. A estratégia favorece o estabelecimento da cultura, antes que ocorra mato competição com plantas daninhas, mas atenção, é essencial identificar as principais espécies de daninhas presentes na área de cultivo, visando determinar o período ideal para controle delas sem que ocorram interferências na produtividade do feijoeiro.
No sistema plantio direto, o uso abundante de palhada residual auxilia no controle de plantas daninhas, atuando especialmente nos fluxos de emergência de espécies fotoblásticas positivas, as quais necessitam de luz para emergir. Como visto anteriormente, uma série de fatores podem intervir no estabelecimento da lavoura de feijão, sendo assim o cuidado com a lavoura nos estádios iniciais do seu desenvolvimento é indispensável para a obtenção de adequadas populações de plantas e boa produtividade da lavoura.
Melhor aproveitamento do fósforo pode gerar economia com fertilizantes de até US$ 20 bilhões nas próximas décadas.
Equilibrar o nível de fósforo (P) na lavoura é um dos desafios à produtividade atrelada à sustentabilidade agrícola. De acordo o professor Paulo Pavinato, do departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o P é um dos nutrientes mais limitantes ao crescimento de plantas nos solos brasileiros. “Em geral, o problema não é a baixa concentração de P no solo, e sim, a baixa disponibilidade desse P às plantas. Grande parte (cerca de 70%) do P aplicado via fertilizantes (mineral ou orgânico) é acumulado no solo em formas pouco ou não acessíveis às plantas. Este P acumulado ou residual é conhecido como legacy P”.
Pavinato liderou um estudo, no qual verificou-se que desde os anos de 1960, cerca de 33,4 milhões de toneladas de P foram acumuladas nos solos agrícolas brasileiros. Segundo o estudo, essa quantia representa um acúmulo de 1,6 milhões de toneladas de P por ano nesta última década, e se seguirmos nesse ritmo serão mais de 100 milhões de toneladas acumuladas até 2050.
Manejo
Para os pesquisadores, a adoção de estratégias de manejo como calagem, sistema plantio direto com rotação de culturas, sistemas integrados, variedades melhoradas e inoculação de microorganismos solubilizadores de P podem proporcionar melhor aproveitamento desse P acumulado no solo. “Ações nesse sentido poderiam gerar uma economia de fertilizantes fosfatados na ordem de US$ 20 bilhões nas próximas décadas. Estes números chamam a atenção, e ilustram o enorme potencial que ainda temos para tornar a agricultura brasileira ainda mais eficiente, rentável e sustentável”, complementa o professor Maurício Cherubin, também do departamento de Ciência do Solo, um dos autores do estudo.
O artigo, intitulado Revealing soil legacy phosphorus to promote sustainable agriculture in Brazil, contou com a colaboração de pesquisadores da Bangor University – UK e pode ser acessado no link. A pesquisa contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
As minor crops são culturas importantes pois estão presentes nas mesas dos cidadãos do mundo todo, sendo muitas vezes culturas de alto valor agregado, como frutas, hortaliças, leguminosas e outras. - Foto: Wenderson Araujo/CNA
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), aprovou a extensão de uso de mais 17 defensivos agrícolas para as culturas de suporte fitossanitário insuficiente (CSFI), também conhecidas como minor crops (pequenas culturas). A autorização foi publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira, 20 de outubro, no Ato n° 58 do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária.
Para as culturas do amendoim, ervilha, feijões, grão-de-bico e lentilha são seis extrapolações de uso de diferentes ingredientes ativos - cloridrato de cartape, lambda-cialotrina e diafentiurom e as misturas de dinotefuram com piriproxifem, azoxistrobina com mancozebe, e lambda-cialotrina com clorantraniliprole -, porém são ingredientes que já tinham registro de pelo menos uma dessas culturas.
O produto à base de Boscalida foi o que teve o maior número de inclusões de culturas em sua recomendação de uso, que conforme o agrupamento das CSFI, vai desde as frutas de casca não comestível, passando pelo grupo das frutas que possuem casca comestível, o das raízes e tubérculos, o das hortaliças folhosas e ervas aromáticas, até o grupo das leguminosas e oleaginosas.
As culturas das hortaliças folhosas, além do produto já citado, foram contempladas com um fungicida que é uma mistura de fluxapiroxade com piraclostrobina para controle, principalmente, de mancha preta (Alternaria brassicae) e mal das folhas (Septoria lactucae). Outras pequenas culturas também tiveram a recomendação de uso incluída nesse produto.
Nas culturas de milheto e sorgo foram incluídos produtos à base de carfentrazona-etílica e da mistura de clorantraniliprole com lambda-cialotrina. Já as culturas de batata-doce, batata-yacon, beterraba, cará, gengibre, inhame, mandioca, mandioquinha-salsa, nabo e rabanete foram contempladas com a extrapolação de uso de um produto à base de clorotalonil.
A cultura da melancia ganhou um inseticida à base de teflubenzurom para controle de broca dos frutos (Diaphania nitidalis) e lagarta mede-palmo (Trichoplusia ni). Já para a uva foi um à base de lambda−cialotrina.
Um produto cujo ingrediente ativo é captana que já era recomendado para cebola, pêssego e uva teve mais alvos biológicos incluídos em sua indicação de uso dessas culturas. O mesmo aconteceu com um produto à base de glufosinato – sal de amônio para a cultura da cevada. As frutas ameixa, cacau, nectarina, pera, pêssego, seringueira e uva que já possuem o uso do Glifosato autorizado, agora contam com mais um produto comercial com esse princípio ativo.
Também foram incluídas na liberação de uso as CSFI que não são de uso alimentar. Neste caso, as plantas ornamentais foram contempladas com um produto à base de lambda-cialotrina com clorantraniliprole e a Duboisia, que é uma planta de uso medicinal da qual é extraído o princípio ativo do medicamento conhecido como ‘Buscopan’, teve a inclusão de dois produtos, sendo um à base de Clorotalonil e outro à base de fipronil.
Segurança
Com as extensões aprovadas hoje, os produtores dessas culturas agora poderão utilizar esses produtos conhecendo as doses corretas para proteger seus cultivos e com a garantia de que esses alimentos serão seguros para o consumo. Recentemente, o Mapa já havia aprovado a extensão de uso de três defensivos agrícolas para as culturas minor crops.
Por serem plantadas em áreas menores em comparação às grandes culturas, como soja e milho, as minor crops não apresentam atratividade econômica para a pesquisa privada no desenvolvimento e recomendação de pesticidas, o que dificulta a disponibilidade de produtos para o controle de pragas, sendo um problema para os agricultores dessas culturas. Entretanto, são culturas importantes pois estão presentes nas mesas dos cidadãos do mundo todo, sendo muitas vezes culturas de alto valor agregado, como frutas, hortaliças, leguminosas e outras.
A extensão de uso de defensivos agrícolas para as culturas de suporte fitossanitário insuficiente é o resultado de uma política governamental e ações em parceria com a academia, produtores rurais e indústria.
O Ato publicado também traz diversas alterações de pós-registro dos defensivos agrícolas já registrados.
Apesar dos avanços tecnológicos dos sistemas de distribuição de sementes, as falhas são comuns na maioria das lavouras, por conta do uso de velocidade inadequada do conjunto trator/semeadora.
A escolha da variedade foi feita, a área está pronta pra receber a semente, o trator com manutenção em dia, semente tratada e semeadora azeitada e regulada. É a hora de entrar na lavoura e dar início à próxima safra. A condição de trabalho é boa, sem umidade excessiva no solo, palha bem distribuída na superfície e mecanismos dosadores e de ataque ao solo bem calibrados. Então, vamos supor que erremos num fator crucial: a escolha da marcha do trator ou da velocidade de semeadura. Ao fazer esta escolha equivocada, colocamos em risco todos os bons fatores mencionados anteriormente, pois a velocidade de semeadura pode determinar simplesmente a qualidade da deposição de sementes (espaçamento e profundidade), a demanda por tração e o potencial erosivo da lavoura ali instalada.
Dentre os diversos fatores que afetam a qualidade do processo de semeadura direta está a velocidade de deslocamento. A principal questão está relacionada à demanda de trabalho por ocasião do plantio de grandes culturas, às quais o período recomendado para execução da atividade é restrito, determinado principalmente pelas condições climáticas, expressivamente as condições de umidade do solo e recomendações agronômicas de período de semeadura para cada cultura agrícola.
Aliar qualidade na semeadura com capacidade operacional capaz de suprir a demanda de trabalho na janela de semeadura é o principal ponto a ser equalizado. Velocidades mais elevadas aumentam a capacidade operacional do equipamento, o que reduz custos operacionais, mas podem comprometer o sucesso da semeadura. Diversos trabalhos vêm sendo conduzidos e em sua maioria atestam que a variabilidade na distribuição e falhas na emergência da cultura ocasionadas pela elevação da velocidade são causas de queda no rendimento.
Além da qualidade de deposição de sementes, por vezes tratada como “plantabilidade”, outros fatores intimamente relacionados à velocidade de semeadura são a uniformidade de profundidade de deposição de sementes - que tende a ser mais desuniforme em maiores velocidades -, a demanda por esforço de tração e a mobilização e revolvimento excessivos do solo.
Para semeadura de culturas com precisão são comumente utilizadas semeadoras que utilizam dosadores de sementes de disco alveolado ou pneumáticos de pressão negativa (vácuo). Com a evolução tecnológica, surgem no mercado alternativas para maximizar a individualização de sementes e aumentar a velocidade de semeadura. Hoje, existem no mercado mecanismos que prometem semear até a 16km/h sem perder qualidade de deposição. Obviamente tratam-se de condições específicas, não comuns a todas as lavouras e produtores.
É comum encontrar produtores ou técnicos que fazem experimentos dentro da propriedade, visando identificar até que ponto pode-se elevar a velocidade de semeadura. Mas como fazer esta avaliação? Normalmente utilizam-se critérios como: espaçamentos aceitáveis, duplos ou falhos, coeficiente de variação, índice de enchimento do dosador, redução no estande em relação ao esperado, entre outros.
Como avaliar a distribuição de sementes
De maneira geral, são considerados espaçamentos aceitáveis aqueles que ficam entre 0,5 e 1,5 veze o espaçamento teórico nominal. Por exemplo: se a densidade de semeadura desejada é de dez sementes por metro, o espaçamento entre sementes teórico é de 10cm. Então, serão considerados aceitáveis todos os espaçamentos que ficarem entre 5cm e 15cm. Aqueles que ficarem abaixo são considerados duplos, e acima de 15cm, falhos. A análise deve ser realizada em uma amostra representativa, recomendando-se não menos que 100 sementes ou, no exemplo acima, tomaríamos dez amostras de um metro cada. Para a cultura do milho, por exemplo, sendo semeado com semeadoras pneumáticas, o percentual de aceitáveis esperado deve ser próximo de 100. Por outro lado, para a cultura da soja semeada com semeadoras de disco alveolado horizontal, esperam-se valores mínimos de 60% de espaçamentos aceitáveis.
A comparação entre mecanismos dosadores de disco alveolado e pneumáticos é estudada com frequência. Autores e produtores têm verificado que o mecanismo dosador pneumático apresenta melhores resultados em comparação com dosadores de disco alveolado. Entretanto, os resultados são contraditórios, e por vezes mostram que os dosadores de disco alveolado não sofrem com a elevação da velocidade de deslocamento. A maioria dos estudos com semeadoras equipadas com estes tipos de mecanismos concentra-se na velocidade de deslocamento e não na velocidade periférica do disco. Deste ponto, pode-se dizer que quanto mais furos tiver o disco dosador, menor será a sua velocidade periférica e, teoricamente, melhor a distribuição de sementes.
Mas, aqui fica uma ressalva: de nada adianta termos um disco com mais furos se estes não forem adequados ao tamanho da semente. Cabe ao produtor, técnico ou operador selecionar o disco dosador que melhor se adapta àquela variedade. É comum encontrar no campo, discos trabalhando com anel corretor inadequado ou com tamanho do alvéolo muito grande ou muito pequeno.
Na Tabela 1 são mostrados os resultados de um experimento em que foram avaliados quatro mecanismos dosadores, dois pneumáticos e dois de disco alveolado em diferentes velocidades de semeadura. Na simulação da semeadura do milho, não houve diferença entre os dosadores para velocidades de semeadura de até 7,5km/h, embora um dos dosadores de disco alveolado tenha tido um desempenho sensivelmente inferior aos demais. Para a soja, os mecanismos dosadores pneumáticos apresentaram melhores resultados, sendo que os de disco alveolado não apresentaram diferenças significativas entre si, tendo desempenho ruim, independentemente da velocidade.
Em relação à velocidade periférica do disco, na semeadura do milho, para a velocidade periférica de 0,09m/s não houve diferença entre os quatro mecanismos dosadores de sementes, o que também aconteceu com 0,28m/s de velocidade periférica do disco. A diferença entre os mecanismos dosadores se mostrou mais acentuada na velocidade periférica de 0,38m/s, sendo que os percentuais de espaçamentos aceitáveis entre sementes de milho foram elevados, denotando boa regularidade de distribuição de sementes, mesmo nas maiores velocidades periféricas. O percentual de espaçamentos aceitáveis caiu de 92,8% para 67,5% em média para os quatro mecanismos dosadores.
Para a cultura da soja, ao se elevar a velocidade de semeadura, o sistema pneumático apresentou melhor desempenho em comparação ao sistema de disco alveolado horizontal. Esta queda mais acentuada na regularidade de distribuição dos dosadores de disco alveolado é devido à elevação da velocidade tangencial dos discos, causada pelo aumento da velocidade de deslocamento. Como a relação de transmissão entre o dosador e a roda motriz permanece a mesma, a velocidade tangencial do dosador aumenta na mesma proporção da velocidade de deslocamento, o que prejudica a individualização das sementes pelo mecanismo dosador. Em maiores velocidades de deslocamento, pode ocorrer decréscimo no índice de enchimento do mecanismo dosador de sementes.
Para a VP de 0,09m/s, não houve diferença entre os quatro mecanismos dosadores de sementes, o que também aconteceu com 0,28m/s de velocidade periférica do disco. Observando as médias da interação entre os fatores mecanismos dosadores e VPs do disco, nota-se que a variável percentual de espaçamentos aceitáveis reduziu em apenas 9% para o dosador DP1 e em 35% e 31% para os dosadores DDH1 e DDH2, respectivamente, o que ilustra uma maior capacidade de suportar maiores velocidades periféricas dos dosadores pneumáticos.
Esforço de tração e mobilização de solo
Sem dúvida, a principal preocupação “prática” do produtor – além, óbvio, de comprar uma boa máquina – é se o seu trator será capaz de puxar aquela semeadora. Esta também é uma preocupação do fabricante e, em função disso, é normal que os fabricantes superestimem a demanda de tração para que não ocorra o inconveniente do trator “apanhar” com aquela máquina. É comum encontrarmos no campo tratores com quase o dobro da potência necessária para aquela semeadora (Figura 3). Obviamente o fabricante faz esta estimativa considerando as piores condições possíveis, por isso é compreensível que a demanda seja estimada para mais.
A demanda de tração está intimamente relacionada à velocidade de semeadura. Ao aumentarmos a velocidade, para um mesmo esforço de tração, estamos elevando a demanda de potência. Diante do exposto, sempre que possível é recomendável optar por semeadoras um pouco maiores e trabalhar mais devagar. Obviamente obedecendo a recomendação do fabricante na relação trator/semeadora. Outro fator importante e determinante é a carga dos reservatórios de sementes e fertilizantes. Hoje em dia é comum optar por realizar a adubação em uma operação separada da semeadura. A ressalva fica por conta da “não mobilidade” de alguns fertilizantes que acabam, desta forma, se concentrando na camada superficial do solo. Outros fatores, não menos importantes, são o tipo de sulcador, a classificação do solo e o relevo da região, o tipo e a quantidade de pneus (simples ou duplos) e a lastragem adequada.
Outro ponto a considerar é que, quase que invariavelmente, acréscimos na velocidade de semeadura aumentam o volume de solo mobilizado e revolvido, o que acaba tornando a área mais suscetível a processos erosivos. Neste sentido, é importante que o produtor ou operador opte, sempre que possível, por realizar a semeadura em nível, evitando que a água escoe no interior do sulco e ganhe velocidade, aumentando o potencial erosivo.
Opiniões finais
Diante do exposto, fica a dica: não se deve simplesmente elevar a velocidade de semeadura independentemente do mecanismo dosador, da condição de solo, do trator etc. Cada produtor deve ter ciência da sua condição operacional e então adequar a velocidade de trabalho à sua lavoura. Deficiências no contato solo/semente, recobrimento e excesso ou falta de compactação da semente podem ser ocasionados pela escolha equivocada da velocidade. Como dito anteriormente, a simples escolha equivocada “de marcha” pode trazer prejuízos consideráveis na instalação da lavoura, que, certamente, irão se refletir no desenvolvimento da cultura e na produtividade.